sábado, dezembro 22, 2012

Boas-Festas


Já os dias se abrem, cada vez maiores, e a luz começa a conquistar as sombras e a escuridão. Avançam já a "passinhos de pardal" para o equinócio primaveril, mas são ainda dias solsticiais.


Boas-Festas a todos os que por aqui passam.

sexta-feira, dezembro 21, 2012

Faleceu o Professor Simões Lopes (1934 – 2012)

Foi um privilégio e uma honra ter sido seu aluno no ISEG, quando uma vez por lá frequentei um curso de pós-graduação. Aprendi com ele, e muito. Economia Urbana e muito mais. As suas prelecções eram para mim um prazer. Os seus ensinamentos ainda me servem na vida profissional que levo. Já o citei, por vezes, aqui.

Remeto ainda para o blogue Ladrões de Bicicletas, onde os seus colegas economistas lhe prestam homenagem e pelo qual tive notícia do seu falecimento.

Que descanse em paz.

O fim do mundo já começou

Finda desde o dia em que se formou.


Inverno de Portugal


Inverno,
Eterno inferno.

E se te disser que folheei as Poesias Completas
d’O’Neill à procura da palavra “Inverno” para
escrever um poema neste mural e não encontrei?

Seria muito a propósito, não?
Hoje, no dia do solstício de Inverno…
Que pretensão a minha, querer escrever
um poema de O’Neill, sem o conhecer.

Inferno,
Eterno Inverno

O’Neill não era dado a contemplar os céus,
Quanto mais as celestiais estações.
Preferia esgueirar-se por entre as gotas de chuva,
fosse Inverno, fosse Verão.

O’Neill era de Lisboa, e os de Lisboa não são muito dados a olhar o céu,
Excepto os poetas e os loucos.
Todo o movimento nos desvia o olhar.
É preciso estar atento, nas cidades, em particular.
Mas O’Neill não só era de Lisboa, como era poeta.

O’Neill estava atento.
Atentava, porém, em tudo o que se movia, em tudo o que se mexia.
Escapou-lhe o Inverno.
Ou escapou-me a mim, na sua completa poesia.

Mas por que diabo O’Neill se haveria de preocupar com o Inverno, esse lugar-comum?
Esse Inverno de Portugal?

Inverno suave,
Ditoso Inverno, sempiterno Inverno.

Os gélidos dias partirão: adeus!
Até à Primavera,
Até ao Verão.

                                             AMCD

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Postos de lado

«As sociedades modernas excluem por definição os fracos, os estúpidos, os inúteis, os doentes, os indefesos. O grande princípio do thatcherismo era essa ideia que estipulava que dadas a igualdade de condições e oportunidade, todos pisaríamos forte pelo amanhã que canta do sucesso e do trabalho remunerado. O thatcherismo esqueceu-se dos que precisam de muletas para caminhar pela vida fora. A sociedade portuguesa dos últimos anos enriqueceu, e pôs de lado. Chamou-lhe o custo social do progresso, e pôs de lado

Clara Ferreira Alves, 06/01/96 (*)

Em 1996, quando governava Guterres, quando a classe média engrossava (apetece dizer, “quando havia classe média”) e a sociedade portuguesa enriquecia (sabemos agora que esse “enriquecimento” afinal correspondeu a “endividamento”, ou seja, à projecção dos custos da crescente acumulação material e do consumo para o futuro, e o futuro é agora) a taxa de desemprego era cerca de 7,2%, e já então se começava a sentir no país a brisa do thatcherismo (curiosamente, outra palavra para neoliberalismo). Os “fracos, os estúpidos, os inúteis, os doentes, os indefesos” foram postos de lado, dizia Clara Ferreira Alves, e já então as políticas começavam a questionar a continuidade do Estado-Providência, pelo menos nos moldes até aí praticados. Actualmente a taxa de desemprego mais que duplicou. Já não são só os desgraçados a ser postos de lado. Hoje é a classe média que caiu em desgraça e que está a ser posta de lado e do lado dos desgraçados. Em suma, uma desgraça, e como diz o povo, uma desgraça nunca vem só. Sopram fortes, os ventos do neoliberalismo. Será a reacção desesperada que antecede o último estertor que prenuncia o fim de um certo tipo de capitalismo? Ainda está viva a democracia que o debelará?

P.S. - Curiosamente, hoje, no contexto comunitário, é Portugal que está a ser posto de lado (e à venda). Portugal, a Grécia, a Irlanda, a Espanha, a Itália, Chipre, etc.



(*) Clara Ferreira Alves (1996), “O Desejo de Ano Novo” in A Pluma Caprichosa, 2ª ed., Publicações Dom Quixote, 2002, p. 107.

terça-feira, dezembro 18, 2012

George Orwell versus Suzanne Collins


Reconheçamos: a Coreia do Norte é o que mais há de parecido com o pesadelo orwelliano de 1984, mas este modelo de governação neoliberal que agora alastra ao mundo, aproxima-nos cada vez mais do pesadelo dos Jogos da Fome de Collins. Este sim, é um verdadeiro caminho para a servidão. Paradoxalmente, Hayek, que quis afastar-se do caminho para a servidão (*) ao defender um aprofundamento do liberalismo, vê a tentativa de aplicação das suas ideias ao nível social, económico e político, conduzir-nos também à servidão. Os extremos tocam-se, não é verdade?!

Não julguem os paladinos do neoliberalismo que só encontram fome e servidão na Coreia do Norte. Existem bolsas de pobreza extrema nos mui liberais EUA e, infelizmente, entre nós, começam novamente a emergir.



(*) Friedrich Hayek,  autor da famosa obra The Road to Serfdom.

segunda-feira, dezembro 17, 2012

O neoliberalismo e os seus nomes

Há quem lhe chame liberalismo radical (o Papa Bento XVI), há quem se lhe refira como sendo ultraliberalismo, outros referem-se à teologia do mercado, outros chamam-lhe neoliberalismo. Outros fazem manobras de contorcionismo para contornarem a palavra “neoliberalismo”. Mas que diabo, é só uma palavra, um rótulo (sim sabemos que as palavras são importantes, contudo não são mais importantes do que os factos). Chamem-lhe o que quiserem, chamem-lhe "batatas", se quiserem. Os fins e os efeitos da prática desta doutrina estão à vista de todos e são incontornáveis, ainda que alguns teimem em chamar-lhe liberalismo tout court, como se de o mesmo se tratasse. Problema deles.

domingo, dezembro 16, 2012

A elite cosmopolita e os intelectuais locais: o padrão “europeu”

Hoje em dia, em muitos aspectos, Bucareste pode parecer apenas parcial e vagamente europeia, mas precisamente por essa razão, e por causa das cada vez mais óbvias qualidades não-europeias da ruralidade romena remota, parte da sua intelligentsia, tal como a de Belgrado, sempre tentou associar-se ao Ocidente, em especial à França, como acto de desafio contra a natureza estranha do seu ambiente interno. O resultado tem sido, muitas vezes, o suscitar do hipernacionalismo entre outros intelectuais locais e afastar ainda mais a elite cosmopolita das massas populares. Também este é um padrão caracteristicamente «europeu».

Tony Judt, Uma Grande Ilusão? Um ensaio sobre a Europa. Edições 70. 2012 P. 65

Também nós tivemos os nossos estrangeirados - intelectuais cosmopolitas -, alguns repelidos pelo provincianismo local, outros, privilegiados, foram ver o mundo lá fora e regressaram, e tornaram-se tão ou mais provincianos que os ditos “provincianos”. Entre os repelidos temos Agostinho da Silva, José Saramago, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço, etc. Foram rechaçados pelo nosso provincianismo e ficaram a olhar para nós, e por nós, lá de fora. Amavam e amam Portugal, mais do que os regressados. Destes, os que retornaram ao seio dos “indígenas” e que desprezam o país natal até às vísceras, nem vamos falar. E depois temos ainda os que sempre cá estiveram, os “provincianos” que sempre amaram o seu país e nem precisaram de ir mais além. Afinal sempre é possível ir a Índia e voltar, sem abandonar Portugal. Há quem considere estes verdadeiros patriotas, nacionalistas parolos…, mas sabemos que não é bem assim. 

Do neoliberalismo e dos que não crêem em tal (2)


A propósito disto e disto.

Há algum tempo atrás, nos idos de 2008, Vasco Pulido Valente (VPV) anunciava no Público que vivíamos numa Era onde as ideologias já não tinham lugar. Em curtas palavras, lembrava-nos a morte das ideologias. Esqueceu-se porém da ideologia dominante, nascida das cinzas das lutas ideológicas: o neoliberalismo (sabemos que muitos não ousam qualificá-lo como uma ideologia, preferindo chamar-lhe doutrina, enfim um anexo do capitalismo ou uma forma de capitalismo tardio, mais agressiva e invasora). O neoliberalismo emergiu das cinzas do fim do conflito entre o comunismo, enquanto projecto alternativo, e o capitalismo (*) e passou a dominar o mundo, embora tivesse de arrumar primeiro com a social-democracia e com o welfare state, que ainda resiste nalguns bastiões. O neoliberalismo não deve ser confundido com o antigo liberalismo. O neoliberalismo é aquilo em que o capitalismo dominante, tardio e vencedor, se tornou ou se transmutou. Depois da implosão do comunismo soviético, que por milagre lhe saiu da frente, foi a social-democracia o próximo alvo a abater.

Vasco Pulido Valente (VPV) não era um intelectual provinciano, pelo contrário, pertencia a uma elite cosmopolita pois era um daqueles que tinha "um olho em terra de cegos": “estudou” lá fora, andou pelas terras de Oxford. Ora nesse tempo do “orgulhosamente sós”, esses intelectuais cosmopolitas, arredados da "piolheira" e afastados das massas populares (dos "indígenas", da "populaça"), tinham o privilégio de trazer ideias novas e frescas do exterior. Os intelectuais provincianos, esses nacionalistas, foram os que ficaram (não por acaso, Maria Filomena Mónica, outra intelectual da outrora elite cosmopolita, agora tornada provinciana, considera “parolo” o actual nacionalismo - pode sê-lo, mas não o é o patriotismo). Mas a verdade é que VPV deve andar há muito arredado do que se escreve e debate na Academia. O homem provincianizou-se, só pode, porque se atentasse, por exemplo, no que actualmente escrevem os académicos britânicos e norte-americanos, entre outros, em particular na área das Ciências Sociais e das Humanidades, facilmente verificaria que o neoliberalismo é um conceito corrente, não só entre os radicais de esquerda. Que saia mais do Gambrinus e que vá ver o mundo.

É que o mundo mudou!



(*) Quando o comunismo soviético começou a decair nos anos 80.

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