Escrevo da invicta, mui industriosa e livre cidade do Porto.
Lisboa fede. Alguns dirão que fede porque há luta. Ainda assim fede, a filha da
puta.
Agora ide a correr dizer que enlouqueci.
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Ao gerirem os nossos destinos por
curtíssimos horizontes temporais, os “governantes” abdicaram do sonho utópico,
para eles sempre utópico, sem lugar neste mundo, de um dia as comunidades que “regem”
se libertarem dos fardos quotidianos que as oprimem – essa era a busca pela verdadeira
liberdade e civilização! Movem-se agora por curtos ciclos eleitorais e
curtíssimos ciclos financeiros – as cotações nos mercados internacionais, os ratings, e, entre outras, as taxas de
juro da dívida pública a 10 anos, mais precisamente, e agora em inglês técnico,
“The Portuguese Government Bonds 10YR Note”, que pode ser vista aqui (e que no momento se encontram em tendência decrescente, em torno dos 6%, daí a
temporária euforia de alguns), oscilando diariamente, ora para cima, ora para
baixo, como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, e é só isto que lhes
interessa, porque ironicamente, no longo prazo, estaremos todos mortos. Para
cúmulo, é para eles agora o curtíssimo prazo que importa, e por isso não admira
que alguns destes iluminados tenham querido difundir a ideia de que a história não
importa e pouco influi na progressão das sociedades pós-modernas e nos nossos
destinos. Assim, uma nação com mais de 800 anos de história é vendida a retalho
no mercado internacional por meia pataca. Os traidores estão entre nós, sempre
estiveram, que gente a defenestrar sempre houve.
Soares acabou com a Marinha Mercante, Cavaco acabou com
grande parte da frota de pesca nacional, Passos acaba com os estaleiros de Viana
do Castelo e agora a Marinha de Guerra está sem Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA).