sexta-feira, maio 13, 2016

Liberdade para escolher

Escolham, escolham livremente. Mas não façam os outros pagar pelas vossas escolhas.

Como contribuinte não estou disposto a engordar os bolsos dos patrões dos colégios privados. Que as minhas parcas contribuições se dirijam à escola pública, onde há gente que precisa de ser apoiada, e que, sem a escola pública, nunca iria à escola.

Se optarem pelo ensino privado (e aqui ninguém vos priva dessa liberdade, ó liberais de pacotilha), então que paguem do vosso bolso. Deixem o bolso dos contribuintes e os escassos recursos financeiros do Estado em paz.

E de uma vez por todas, deixem-se de tretas e de birras, que aqui ninguém vos priva da liberdade para escolher.

quinta-feira, maio 12, 2016

Shit happens!

O livro de Nassim Taleb, O Cisne Negro, volvidas 196 páginas, está a tornar-se maçador. Trata-se de uma repetição ad nauseam do mesmo argumento, com exemplos e mais exemplos. E o que argumenta ele?

Que os cisnes negros existem. Que não se pode prever o imprevisível. Que os improváveis acontecem quando menos se espera. Que há “cisnes negros” por todo o lado. Que algo de improvável pode até estar já em andamento, contudo ainda não adquiriu uma dimensão que lhe dê visibilidade e impacto. Que o que desconhecemos ultrapassa infinitamente o que conhecemos (o velho argumento de Popper, de que nos assemelhamos mais uns aos outros pela infinidade de coisas que desconhecemos do que nos diferenciamos uns dos outros pelo pouco que cada um conhece). Que muitas explicações e certezas relativas à causa dos fenómenos só surgem a ex post facto, e por vezes erroneamente. Que estamos longe, muito longe, de conhecer todas as causas dos fenómenos. Que há causas que nos escapam e sempre escaparão.

Enfim, é a velha história.

Shit happens!

segunda-feira, abril 25, 2016

Democracia hoje

Nada é garantido. Quantas vezes as democracias caíram, exactamente no preciso momento em que menos se esperava? Muitas ameaças pairam hoje no ar, como abutres de olhos postos num moribundo cambaleante. Estranhas ditaduras espreitam – a visão mercantil sobre o mundo e sobre a vida, os lacaios das elites plutocráticas, burocratas em organismos supranacionais não democráticos, que ditam as regras em desfavor do povo chão, a acção de multinacionais neocoloniais nos países do Sul, o sentido de classe e de “guerra de classes” por parte de um todo poderoso 1% contra os restantes 99%, novos feudos e feudalismos, novos fascismos. As democracias dão ténues sinais de padecimento, como pequenas brechas num dique prestes a rebentar. Festejamos hoje a democracia, mas é bom estar alerta. Nada é garantido.

sábado, abril 23, 2016

Classificação de sistemas caóticos

Existem duas formas de sistemas caóticos. O caos de nível um é o que não reage às previsões acerca de si mesmo. O clima, por exemplo, é um sistema caótico de nível um. Apesar de ser influenciado por uma miríade de factores, podemos programar modelos informáticos que tomam em consideração esses factores e produzem previsões cada vez melhores.


O caos de nível dois é o que reage às previsões acerca de si próprio e, por isso, nunca pode ser previsto com exactidão. Os mercados, por exemplo, são um sistema caótico de nível dois. O que acontecerá se desenvolvermos um programa informático que faça previsões com cem por cento de exatidão sobre o preço de amanhã do petróleo? O preço do petróleo reagirá imediatamente à previsão, que, como tal, acabará por não se concretizar.

Yuval Harari, De Animais a Deuses, História Breve da Humanidade, Vogais, 2013, pág.288-289

segunda-feira, abril 18, 2016

A antibiblioteca

Os livros lidos possuem um valor largamente inferior aos não lidos. A biblioteca deve conter tanto daquilo que não sabemos quanto os nossos meios financeiros, as taxas de juro do crédito à habitação e o mercado imobiliário, com as dificuldades que actualmente nos coloca, nos permitirem. Acumulamos mais conhecimento e mais livros à medida que envelhecemos e o crescente número de livros não lidos nas prateleiras observar-nos-à de forma ameaçadora. Na verdade, quanto mais sabemos, mais extensas são as filas de livros por ler. Chamemos a esta colecção de livros não lidos antibiblioteca.    

Nicholas Taleb, O Cisne Negro, Dom Quixote, 2008, pág. 29

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O livro de Nicholas Taleb encontra-se agora em processo de desvalorização. Acabou de abandonar a antibiblioteca e será integrado em breve na biblioteca.

A acumulação de livros não lidos nas prateleiras é proporcional ao tempo que passa,  à curiosidade, à insaciável sede de saber, e, pior do que tudo, ao consumismo infrene.

sexta-feira, abril 15, 2016

Miliciana empunhando uma pistola

Gerda Taro, Miliciana Empunhando Uma Pistola, 1936 
(Guerra Civil de Espanha) 

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Gerda Taro (1910-1937)

Gerda Taro e Endre Friedmann (Robert Capa)

segunda-feira, abril 04, 2016

Mona Lisa (La Gioconda)

Leonardo da Vinci, Mona Lisa, c. 1503-1505

domingo, abril 03, 2016

O seguro de vida de Assad

Sabemos agora que Assad, o criminoso de guerra contra a Humanidade, só ainda se sustém porque existe uma base russa no território sírio. É o seu seguro de vida. Caso essa base não existisse, o seu destino teria sido o mesmo que o de Sadam ou o de Kadafi, ou ainda o de Mubarak, esses déspotas orientais. O problema é que a Síria, nessa circunstância, estaria hoje transformada numa Líbia, onde reina a anarquia, ou num Iraque. A entrada em campo dos terroristas do Daesh, outros criminosos contra a Humanidade, entre outros, conduziu ao descrédito toda e qualquer oposição séria a Assad, para mal dos sírios. E há já quem pense que, mal por mal, que fique por lá o Assad. Também para mal dos sírios, que saem sempre mal nesta história, e saem da Síria. E há já também entre nós quem lastime a queda de Kadafi e de Sadam, pois a anarquia que se seguiu está à vista de todos.

Há uma importante lição a tirar de toda esta história: tentar impor a democracia à bomba, ou até de outras formas menos agressivas, nos estados do Médio e do Próximo Oriente, não resulta. Trata-se de um erro crasso só atribuível a quem despreza a história longa, pois antes até dos tempos de Heródoto, têm sido os reinos despóticos ou as monarquias que sempre por ali vingaram, e estas reagem continuamente contra toda e qualquer tentativa de imposição da democracia.

Ali a democracia não funciona, nem quer funcionar.

sábado, abril 02, 2016

O diabo da submissão

No dia seguinte, Seutes deitou fogo às aldeias; não ficou uma casa intacta. O seu objectivo era, semeando o terror, fazer sentir aos habitantes a sorte que os esperava se não se apressassem a fazer acto de submissão.

Xenofonte, A Retirada dos Dez Mil, Bertrand Editora, Lisboa, 2014, na página 238.
(Anábase, traduzida por Aquilino Ribeiro, que também escreveu o prefácio )


Uma metáfora!
Eis o terrorismo, oriental e ancestral, visando a submissão de aldeões. Sempre a submissão. O diabo da submissão.

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