quinta-feira, fevereiro 28, 2013

A barbárie


Um trabalhador imigrante acorda pela manhã, longe de imaginar que nesse dia será algemado pela polícia à traseira de uma carrinha e arrastado por quilómetros até desfalecer e morrer. Ninguém imagina sequer ao acordar, que irá morrer nesse dia. Muito menos assim.

Os "gastos" na Educação


Gráfico retirado daqui.

Basta ignorar os números relativos que nos querem impingir, como se retratassem verdades absolutas, e passar a atender aos absolutos, e a realidade torna-se mais clara. Os números relativos, (percentuais, por exemplo), utilizados para comparar diferentes realidades, se interpretados de uma certa forma, servem também para iludir e mistificar.

Já os números absolutos, se usados com o devido cuidado e rigor, podem servir também para comparar e para desmistificar um conjunto de mentiras que também nos querem impor.

E é muitas vezes assim com as estatísticas relativas à Educação. A utilização de valores absolutos faz sentido quando é de seres humanos e das suas necessidades que falamos. Afinal não são absolutas as necessidades básicas de um alemão e as de um português, só para dar um exemplo? Não tem o alemão boca, dois braços, duas pernas e uma cabeça, como nós? Não precisamos de nos alimentar, educar, trabalhar, habitar, e zelar pela nossa saúde, tal como ele?

Não faz assim mais sentido atender ao gasto absoluto por aluno, em vez de apresentar esse valor relativizado ao PIB ou à despesa pública, que diferem nos diversos países, enquanto as necessidades básicas dos cidadãos e dos alunos são absolutas e não relativas?

Pois bem, faz todo o sentido apresentar o "gasto" anual por aluno em valores absolutos. E, observando os números, lá está: gastamos muito menos por aluno do que os países mais desenvolvidos da Zona Euro (quase metade do que eles gastam!).

Já em termos relativos, de acordo com os gráficos, por cada 100 euros do PIB (por sinal reduzido), Portugal investe 4,9 em educação, enquanto na zona Euro, por cada 100 euros de PIB investe-se 6,2.

Em suma, com menos recursos, Portugal consegue melhores resultados na leitura, na matemática e nas ciências do que a média dos países da Zona Euro, atendendo ao Relatório Pisa.

E agora venham dizer-nos que precisamos de cortar (poupar dizem eles) na Educação porque nesse sector gastamos demais.

É por estas e por outras que esta gente tem de ser removida do Governo.

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Ainda a resignação do Papa Bento XVI


Obviamente que lamentamos a sua partida nestas circunstâncias. E logo agora que começávamos a ouvi-lo com mais atenção. Até parece de propósito.

Logo agora que começávamos a concordar com as suas palavras e com a sua denúncia clara do "liberalismo radical" que toma conta do mundo e que está a lançar na pobreza multidões inteiras, polarizando as sociedades entre uma minoria de abastados e uma maioria de desprezados, empobrecidos e humilhados. Terão os seus conselheiros julgado que ensandecia ao ouvi-lo proferir tais palavras?

"É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus", disse Cristo uma vez. É claro que sabia do que falava!

Que o Papa que vem, também se oponha às modernices do capitalismo tardio, que tudo quer converter em mercadoria, até a própria Vida, para não falar dos simples prazeres da vida.

Que o que vem não seja um alinhado com os poderes e os poderosos deste mundo, nem com os consumidores-reis, mimados, infantilizados, individualistas, hedonistas, estupidificados pelo mais abjecto materialismo, iludidos pelo ópio publicitário invasor de toda a privacidade e colectividade.

Que seja mais forte do que este Papa mas tão jovem quanto este, porque este era jovem de espírito.

É preciso dizer NÃO a muito e a muitos. É preciso coragem, combatividade e antagonismo.

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Agora, e mudando de assunto, que interessa que o Papa Emérito deixe as suas vestes douradas e passe a envergar brancas, e que passe a calçar sapatos castanhos em vez de vermelhos, e que o seu anel de ouro seja destruído?

É ao anunciar estas ninharias que a Igreja se trai. Parece comprazer-se em alimentar o habitual circo para entreter as massas, ávidas de banalidades, santinhos e velas.

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Cristiano Ronaldo e Sérgio Ramos em corrida triunfal, após mais uma estocada no touro catalão.

Barcelona: 1  - Real Madrid: 3 (Taça do Rei)

Curiosas as expressões dos rostos.

Ao fundo, um adversário (Puyol) contempla a bola dentro da baliza, incrédulo, enquanto outro (Busquets) chega já tarde.

Já nada podem fazer. CR afasta-se rapidamente, eufórico, triunfante, terrível...

Um herói dos nossos tempos.

Um Aquiles dos relvados.

sábado, fevereiro 23, 2013

Poupanças!


Talvez tenha passado despercebida a mudança quase imperceptível e delicada no discurso, habitualmente cínico, do Ministro das Finanças: agora já não são cortes, são poupanças. As poupanças das finanças. As nossas gastanças.

Disse agora Gaspar que, face à inesperada derrapagem no PIB (mais uma), está considerar a aplicação de medidas para controlo da execução orçamental. Segundo o ministro “a composição destas medidas será uma combinação de poupanças em execução orçamental ao longo de 2013 com os efeitos das poupanças orçamentais estruturais e permanentes decorrentes do processo de reforma do Estado".

Pois está claro! Não são cortes, são poupanças! Mais de 800 milhões de poupanças! Poupanças que não seriam realizadas se estas derrapagens (outro eufemismo) não tivessem ocorrido. Benditas derrapagens que permitem tão gordas poupanças.

Venham mais derrapagens que queremos poupanças.

Grande Gaspar! Tanta competência até já aborrece.

P.S. – No Expresso de hoje, já se anuncia que a “Recessão engoliu o plano B de Vítor Gaspar”, na página 8 do primeiro caderno. Aguardam-nos mais poupanças, portanto.

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E será que Manuela Ferreira Leite já deu com a "espiral recessiva"? Mas o que é a “espiral recessiva”? E a Ongoing? O que é a Ongoing?

E a retoma? Para quanto a retoma? Não era em 2013?

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Já não é o povo quem mais ordena, mas há ainda quem o cante.

Por vezes invade-nos uma sensação de déja vu. Parece que voltámos ao marcelismo, quando os estudantes se agitavam nas universidades e na rua se formavam pequenas manifestações espontâneas contra um regime que tendia para o autismo. Mais além cantava-se já o Grândola Vila Morena. Prelúdios de uma revolução. Vivia-se uma paz podre e o regime acabou por cair surpreendido (meses antes, consta, houvera um sinal - falso, sabemo-lo agora - de largo apoio popular). Mas os capitães de Abril tiveram de dar-lhe o último empurrão. E tudo se desfez em escombros. Sem este último abalo não teria havido revolução.

Mas é apenas uma sensação de déja vu. Hoje os tempos são outros e novos. O Governo tende para o autismo e a democracia dá sinais de enfraquecimento com o reforço do poder de elementos antidemocráticos no seu seio. O país perde soberania, o que significa que é o povo que perde soberania.

Por outras palavras, já não é o povo quem mais ordena. Mas há ainda quem o cante.

Quem mais ordena nos dias de hoje? O Governo? Merkel? Os mercados? O que escondem os mercados? Que rostos se escondem por detrás dos mercados? Que poderes e poderosos? Quem são os global players que determinaram o teu desemprego, ó Zé? Muito provavelmente os mesmos que vão determinar o meu.

E o que vamos fazer quanto a isso?

terça-feira, fevereiro 19, 2013

Yerevan e Ararat

Photograph: Maxim Shipenkov/EPA

domingo, fevereiro 17, 2013

Terá o Papa abandonado a cruz?

REUTERS/ANSA/ALESSANDRO DI MEO

Agora que a poeira assentou, a excepcional situação criada pela resignação do Papa levanta um conjunto de questões sensíveis, em particular, aos católicos. Logo após a resignação do Papa pelos motivos que se conhecem, ouviram-se vozes enaltecendo o acto, como sendo um feito corajoso e perfeitamente aceitável, dadas as circunstâncias pessoais (físicas) em que o Santo Padre se encontra. Poderíamos dizer contudo, que coragem seria o Papa ficar no seu lugar até à morte, não obstante o seu sofrimento. A verdade é que nunca, nos últimos 598 anos, um Papa abandonou a sua cruz. A verdade é que a Paixão de Cristo encerra a mensagem de que cada um tem a sua cruz para carregar, que o Salvador carregou a dele (nas palavras do filósofo Miguel de Unamuno, na sua obra Do Sentimento Trágico da Vida). Que viver também é sofrer*. Assim, esta abdicação não deixa de ser um sinal de grande fraqueza e crise no seio do catolicismo. Por isso se compreende a pressa dos sacerdotes em normalizarem uma situação irregular e que só enfraquece a Igreja.
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(*) Consta que, num suposto certame, Homero foi questionado relativamente à melhor coisa que poderia acontecer aos mortais, ao que o Poeta respondeu que “o melhor para os mortais que habitam sobre a terra é não nascer; mas tendo nascido, ultrapassar sem demora os portões do Hades.” (Já aqui fizemos referência a esta questão). O que queria dizer Homero com tão desgraçada resposta, que não o favoreceu no referido certame? Que viver implica sofrer e depois morrer, e que, quanto menor for a duração da vida, menor será o sofrimento. É um ponto de vista difícil de aceitar nos nossos hedónicos tempos, mas assim é. Viver implica carregar com essa cruz do sofrimento. Ora o Papa não morreu, mas alijou a sua carga ao descer da cruz. Porém, do ponto de vista de um católico, não se pode descer da cruz. Ou por outras palavras, não é lá muito católico descer da cruz.

Quanto à cruz da Igreja, outro a carregará, pois em breve teremos Papa, mas fica sempre a questão relativa ao exemplo do Papa que abandonou a cruz  antes do momento habitualmente determinado por Deus – o momento da morte. Terá o Papa contrariado os desígnios de Deus ao resignar por decisão pessoal e portanto, por decisão humana? Ter-se-á o Homem antecipado a Deus?

Consta que já relampejou na alta cúpula da basílica de São Pedro. Estará Deus zangado?

Entretanto na Síria



Entretanto na Síria, os morteiros continuam a semear a morte. Volvidos dois anos de revolução morreram cerca de 70 000 pessoas de ambos os lados, noticia a BBC. Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se o ditador tivesse resignado a tempo de evitar o recrudescimento do conflito? A violência contra os primeiros manifestantes fez as suas primeiras vítimas, e a partir daí cresceu como uma bola de neve. Eis a prova mil vezes repetida de que a violência gera violência. O ciclo só pode ser parado com a cedência de uma das partes ou a derrota militar de uma delas, o que não se adivinha para breve.

Curiosamente parecemos estar a assistir ao tipo de guerras quentes comuns no tempo da Guerra Fria, quando as superpotências se furtavam ao conflito directo entre si. O Bashar tem atrás de si o apoio da Rússia, da China, do Irão, etc. e os rebeldes, o apoio do Ocidente e da Turquia.

Quem sofre? O povo sírio.

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