João Maurício Brás, O Mundo às Avessas, O Manicómio Contemporâneo, Opera Omnia, 2018
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O livro ilustra bem a decadência em que estão a cair os cursos
de Ciências Socias e Humanas, contaminados e parasitados, cada vez mais, pelos
novos dogmas da pós-modernidade, que de ciência nada têm. As ciências sociais
não foram capazes de lidar com os seus falhanços, ou hipóteses não confirmadas
pela experiência, a horrível e trágica experiência do século XX. Em vez de criarem novas hipóteses e abandonarem velhas premissas, tal
como o fazem as ciências naturais, tecnológicas e exactas – para se chegar a uma teoria, em ciência, muitas
hipóteses são testadas e a maioria acaba por não se confirmar, mas daí
retiram-se aprendizagens e conclusões que ajudam a encontrar o caminho – as ciências
sociais lançaram fora a água do banho com o bebé lá dentro. Um sociólogo, um
antropólogo ou um geógrafo humano do final do século XIX e início do século XX,
se agora fosse confrontado com os programas e as ideias dos atuais cursos
dessas ciências, não as reconheceria, nem se reconheceria nelas. Pelo menos
parece ser para aí que as coisas se encaminham, se não atalharem rapidamente
caminho e inverterem o rumo. As Ciências Sociais renegam agora os seus cânones
e os seus clássicos, e desenraízam-se.
Estamos então perante um maravilhoso mundo novo nada recomendável,
totalitário e delirante no campo das ideias, no que concerne às Ciências Sociais
e Humanas, na academia.
Se a Universidade hoje ainda se salva, é pelas Ciências Naturais
e Exactas (Física, Química, Biologia, Geofísica, Matemática, etc.) pela Arquitectura
e pela Medicina. As Ciências Sociais encontram-se enredadas numa crise sem tamanho
– uma crise de identidade.
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Alguns sublinhados do livro:
Os departamentos universitários de Ciências Sociais e
Humanas atravessam tempos complicados. Se em muitas das áreas já não encontramos
conhecimento mas ideologia, a sua influência tem peso, ainda que de modo difuso.
O seu prestígio científico desapareceu, mas fornecem caução intelectual a
certas agendas políticas.
Estas áreas académicas estão transformadas em ciências da
cultura e estudos críticos, estudos de género, estudos étnicos, pós-colonialistas
e queers studies. Não podemos esquecer também os departamentos de arte e
literatura, que oferecem e produzem trabalhos e teses totalmente
incompreensíveis, onde tudo e o seu contrário é possível. (…)
Pág. 156
O drama profundo dessas áreas académicas [estudos
culturais, literários, na arte, no cinema, na moda, etc.] é que, para além do palavreado hermético e
gongórico, lhes subjaz uma orientação política e ideológica intransigente,
histérica e totalitária, mas influente.
Pág. 160
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Bem-vindo, portanto, ao mundo
novo, que nada tem de admirável.
Bem-vindo ao manicómio
contemporâneo que se vai instalando na ala das Ciências Sociais da academia.