sábado, maio 10, 2014

Ajustados!

Vitória. Foi-se a troika, vitória. Somos livres e soberanos outra vez. Hurra.

Ficou a dívida pública, colossal. Ficaram as sobretaxas nos vencimentos. Ficaram os impostos, enormemente aumentados, e as “poupanças” do Governo sempre a realizar, qual espada de Dâmocles insegura a pairar. Ficaram as obras por acabar, os estaleiros a enferrujar, as escolas por intervencionar, os desempregados por ocupar, os pobres por recuperar, os desgraçados por salvar. E a sábia juventude, desempregada, a emigrar.

E as auto-estradas, todas portajadas, vazias e arejadas…

Ah, país! Ah, que bela destruição criativa!

E tiveram todo o cuidado em tocar cirurgicamente nos impostos: desceram o IRC dos patrões, mas subiram o IVA, mais uma vez, e a TSU dos trabalhadores (disseram que não subiram, mas ameaçam voltar a subir, se o Tribunal Constitucional não colaborar, na traição à Constituição), concederam mil perdões fiscais a milionários magistrais e vistos dourados a ricos orientais.

Enfim, é demais!

Foi-se a troika, dizem, mas continuamos a ser "ajustados".

Foi-se a troika, mas a troika continua por cá.

sexta-feira, maio 09, 2014

Saganho-mouro

    Cistus salvifolius (Serra dos Candeeiros)                                         © AMCD

domingo, maio 04, 2014

Pela costa alentejana, em Abril

 
     © AMCD

Em Abril percorri contemplativo as veredas da costa alentejana, entre a praia do Malhão e o Portinho das Barcas, sempre a ver o mar nos confins do mundo.

Tranquilas cegonhas e pescadores avistavam-se do cimo das arribas, aninhados em farilhões e plataformas de abrasão.

A meio caminho, no Portinho das Barcas, amêijoas à Bulhão Pato numa esplanada vazia. Depois, o retorno à praia do Malhão, contornando a duna, e o rápido regresso ao mundo, ao nosso pequeno mundo, já pela noite dentro.

sábado, maio 03, 2014

No meridiano

«Se Deus fizesse tenções de corrigir a degenerescência da humanidade não o teria feito já? Os lobos eliminam as suas crias mais fracas, homem. Que outra criatura seria capaz disso? E a raça humana não é ainda mais rapace? As leis naturais mandam germinar, dar flor e fenecer, mas nos afazeres dos homens não há declínio e o meio-dia da sua expressão assinala o começo da noite. A alma humana fica exaurida no ponto culminante das suas façanhas. O seu meridiano é a um tempo o início das trevas e o declinar do seu dia. O ser humano gosta de jogos? Pois que jogue a valer. Isto que vocês aqui vêem, estas ruínas que as tribos de selvagens tanto admiram, não vos parece que vai repetir-se? Vai, sim. Vezes sem conta. Com outros povos, com outros filhos.»


Cormac McCarthy, Meridiano de Sangue, Biblioteca Sábado, 2008, pág. 126.
(os destaques são nossos)

Efeito Ozymândias.

segunda-feira, abril 28, 2014

domingo, abril 27, 2014

Vasco Graça Moura

Partiu hoje.

Dele retenho as suas traduções de Jean Racine, com destaque para Berenice, a sua oposição ao Novo Acordo Ortográfico e o seu amor à Cultura.

Era sem dúvida um dos nossos melhores.


Repudiar, respeitosamente

«Um bom primeiro passo para a libertação da humanidade das formas opressivas de tribalismo seria o de repudiar, respeitosamente, as afirmações daqueles que se encontram no poder, que dizem falar por Deus, ser representantes especiais de Deus, ou terem conhecimento exclusivo da divina vontade de Deus. Incluídos entre estes fornecedores de narcisismo teológico estão os eventuais profetas, os fundadores de cultos religiosos, os exaltados ministros evangélicos, aiatolas, imãs das grandes mesquitas, chefes rabis, rosh yeshivas, o Dalai Lama e o Papa. O mesmo se aplica a ideologias políticas dogmáticas baseadas em preceitos incontestáveis, de esquerda ou de direita, e especialmente quando justificados com dogmas das religiões organizadas. Poderão conter uma sabedoria intuitiva que merece ser escutada. Os seus líderes podem ter boas intenções. Mas a humanidade já sofreu bastante com a história grosseiramente errada contada por falsos profetas

Edward Wilson, A Conquista da Terra: a Nova História da Evolução Humana, Clube do Autor, 2013. Pág. 301

(o destaque é nosso)

Subscrevemos plenamente. Assinamos por baixo.

sexta-feira, abril 25, 2014

Mar da Arrábida e "Onde estava você, no 25 de Abril?"

    © AMCD

Há quarenta anos, na savana moçambicana, nas margens do lago Niassa, soava na rádio um cante anunciador de uma revolução longínqua. A perplexidade era geral.

Era por lá que eu andava.

Já por estes dias e por cá, o mar da Arrábida tem estado sereno (é do quadrante Norte que o vento tem soprado e a serra dá abrigo a este mar), mas sob um céu por vezes carregado*.

(*) A fotografia é de anteontem.

40 anos passaram. Pois que venham mais 40!

40 anos passaram. Pois que venham mais 40! (digo eu para com os meus botões)

Em quarenta anos se construiu o que agora se destrói, e rapidamente. Resiste uma Constituição bem alicerçada. Um último bastião. Mas por quanto tempo mais?

Todos sabemos que destruir é mais fácil e mais rápido do que construir. Assistimos agora a uma destruição criativa, mas o que se cria não é já uma revolução (ou no máximo será uma revolução invertida, uma anti-revolução em marcha que nos conduz, já não à liberdade, mas à servidão).

E se há quarenta anos o povo se uniu e nessa união residia a sua força (cantava-se na rua, como em todas as revoluções, em uníssono, que o povo unido jamais seria vencido), agora é pela sua desunião que se enfraquece. Dividir para reinar tem sido a estratégia de todos os inimigos da liberdade: opor novos a velhos, empregados a desempregados, os que partem aos que ficam, nacionais a imigrantes, os que têm aos que não têm, os do público aos do privado, gerações contra gerações...

Um povo desunido é um povo vencido!

Povos desunidos não tomam Bastilhas.

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