quarta-feira, novembro 14, 2012

“Proletarier aller Länder, vereinigt euch!”


VIVA A GREVE GERAL MULTINACIONAL!

É POR AQUI O CAMINHO.



Aquilo que, desde o início, tornou verdadeiramente espectral o comunismo ascendente e lhe conferiu a força de atrair a si os reflexos paranóicos dos seus adversários, foi a sua capacidade, cedo reconhecida, de ameaçar de destruição o status quo vigente." 

(…)

“Ironicamente, o banco mundial da ira comunista alcançou o seu mais significativo êxito sob a forma de um efeito secundário não intencional. Ao acumular um poderosíssimo potencial político e ideológico, ajudou os seus adversários de outrora, os sociais-democratas ocidentais, a alcançar o ponto mais alto da sua eficácia histórica. Facilitou aos partidos socialistas moderados da Europa a tarefa de obrigar os dirigentes liberais e conservadores a fazer uma quantidade nunca vista de concessões na distribuição da riqueza e na organização das redes sociais. Foi uma situação como esta que tornou plausível a passagem para o controlo do Estado de largas fatias das indústrias nacionais, nomeadamente em França e na Grã-Bretanha.

Peter Sloterdijk (2007), “Os novos frutos da ira: pós-comunismo, neoliberalismo e islamismo” in O Estado do Mundo, 2ª ed., Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2007, pág. 195-196.

***

A articulação sindical multinacional é um elemento chave para que os sindicatos e os trabalhadores voltem a adquirir a força que perderam na recomposição de poderes verificada desde a decadência dos regimes comunistas do Leste da Europa. Com a queda da “cortina de ferro” deixou de existir uma alternativa materializada do outro lado. A sua existência, por si só, tornava o patronato e os governos liberais e conservadores do lado de cá, mais dóceis, mais propensos à negociação e à cedência, receosos de eventuais reviravoltas políticas.

Sindicatos isolados nacionalmente, no actual contexto de globalização, já não funcionam com eficácia e perdem gradualmente força, como se tem vindo a verificar. É que a actual economia já não se cinge às fronteiras nacionais, ou seja, a economia mundial já não corresponde ao somatório das economias nacionais. Vivemos já na era da economia global. Nunca como hoje fez tanto sentido o chavão marxista: “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!” Caso tal união falhe, então será o fim das relações laborais tal como as conhecemos. Aguardar-nos-á uma espécie de neofeudalismo, onde a maioria passará a ser a classe servil, ou, no pior cenário, caminharemos para o mundo dos “jogos da fome” – um mundo cada vez mais polarizado entre uma minoria usurpadora e uma maioria escrava que a alimenta e entretém.

domingo, novembro 11, 2012

No dia em que morreu Amaya Egaña

       © AMCD

Próximo de Ayamonte há uma pequena vila piscatória chamada Punta del Moral e junto a ela foi construída uma “cidade” fantasma que permanece a maior parte do ano vazia. Não é a única cidade fantasma nas imediações de Ayamonte. Não é a única cidade fantasma de Espanha. Quando calcorreamos as ruas da nova Punta del Moral, não nos deixamos de questionar acerca do enorme investimento bancário realizado, do dinheiro dos depositantes enterrado naquilo, da bolha imobiliária, do buraco colossal criado pelos bancos que agora os contribuintes vão ter de tapar, da nacionalização de bancos que estão na bancarrota. Falidos nunca estão: os bancos são demasiado importantes para falir, dizem os acólitos do mercado auto-regulado – caprichosamente as leis do mercado, tão defendidas pelos seus teólogos, não se aplicam aos bancos. Nacionalizam-se os bancos – por exemplo, o Bankia - e pagam as despesas os contribuintes, para bem dos accionistas.

Em Punta del Moral, os edifícios vazios sucedem-se uns aos outros, cada qual com dezenas de apartamentos vazios. E assim passeámos em Punta del Moral, no dia em que Amaya Egaña, 53 anos, funcionária do Bizkaibus, um serviço interurbano de autocarros de Biscaia, se atirou de um quarto andar, à chegada de uma equipa judicial, que a mando de um qualquer juiz e a pedido de um qualquer banco (a notícia, aqui, não diz, depreende-se), se preparava para proceder a mais uma ordem de despejo.

É que os bancos não podem falir, são demasiados importantes, dizem. As pessoas podem.

       © AMCD

sábado, novembro 10, 2012

Monte Gordo, hoje

       © AMCD


       © AMCD

Os céus continuam carregados e sombrios, mas o mar está calmo. Enquanto lanço os olhos ao jornal, na esplanada, junto ao areal, outros lançam o olhar ao horizonte enquanto aguardam os raios de sol. Velhos casais rendidos aos lugares onde outrora, possivelmente, foram felizes. Naquele Verão da vida, que agora procuram, mesmo neste Outono invernoso. Talvez o tenham encontrado. Velhos casais felizes. 

Mesmo no Inverno da vida não deixamos de procurar o Verão da vida, ou a ilusão desse tempo. Regressamos aos lugares onde fomos felizes. Regressamos, por vezes, vezes sem conta. Também fui feliz aqui. E sou, de certa maneira, mas já começam a pesar as recordações doutros tempos mais felizes. Estou a ficar velho.

sexta-feira, novembro 09, 2012

A doença infantil de certos portugueses*


Eu quero lá saber das ideias da Isabel Jonet. Ela que continue trabalhando, o resto (o que diz, o que pensa, o que sente) não me interessa. Interessa-me o que faz. Se ela pensa, fala e sente como a “tia Jonet”, problema dela. Só lhe fica mal, mas enfim, é a Jonet.

E em relação à chanceler Merkel e aos queixumes dirigidos à mesma, que já se avolumam em manifestação, espantam-me. São um sinal de infantilidade perante alguém que pugna pelos interesses do seu país, que é para isso que ela o lidera. É porém verdade que a política da Merkel pode conduzir-nos à velha Europa das rivalidades nacionais exacerbadas (mas rivalidades nunca deixaram de existir, não sejamos ingénuos). A velha Europa regressará (e não me venham dizer agora, que esta foi sempre a velha Europa, porque é preciso conhecer a história da Europa pré-1945 ou pré-1957, para saber o que era a velha Europa), se a nova Europa deixar. Repito: a velha Europa regressará, se a nova Europa deixar. E entre os que defendem a nova Europa, estão também muitos alemães. Por isso, o problema não é a Merkel nem os alemães, mas os que a ela se submetem caninamente.

Fizessem o mesmo os que nos lideram e lideraram, pelo nosso País, ou seja, tivessem defendido acerrimamente os interesses de Portugal e da nova Europa, em vez de ir visitar a Merkel, de braço estendido e implorando, como fizemos aqui referência, e hoje não estaríamos submetidos a tão triste espectáculo. Ou simplesmente, não estaríamos submetidos.

A culpa não é da Merkel, é nossa, ou melhor, daqueles que tão mal nos lideraram e lideram.

Disse.
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(*) - Isto para evitar o termo, “a doença infantil de uma certa Esquerda”, que aqui não há hemiplegias morais – vide o post inaugural deste blogue.

quarta-feira, novembro 07, 2012

Por cá vivem-se dias cinzentos e tempestuosos




Facto que não demove uma passeante e um marisqueiro, que trabalha duramente,...


...nem um fotógrafo, amador e amante de tempestades.

Mas em Novembro há dias assim e, por vezes, em Dezembro, assim

Inconstâncias de um clima mediterrânico.

"Play it again" Obama, but...

(imagem da CNN)

(imagem da CNN)

Obama venceu. É sinal para dizer “play it again” Obama, mais quatro anos na Casablanca. Antes ele que Mitt Romney. Mas não nos esquecemos da posição de Obama em relação à proposta francesa de aplicação da taxa Tobin a nível global, que aqui denunciámos. Não nos esquecemos também, que nos EUA e durante o seu mandato, a classe média americana (85% da população americana, como bem nos lembra a jornalista Márcia Rodrigues, numa excelente peça) foi cada vez mais espremida nos seus rendimentos, ao mesmo tempo que Wall Street prosperava.

Mas não nos deixa de surpreender a fragilidade do discurso do movimento Occupy Wall Street: o tal discurso do “nós, os oprimidos, somos 99% e vocês os super-ricos, que nos oprimem, apenas 1%”, quando verificamos que, afinal, tal balanço não se reflecte na distribuição dos votos entre os candidatos. Obama consegue cerca de 59 500 000 votos (52%) e Romney cerca de 57 000 000 de votos (48%). Então o “nós somos os 99% e vocês o 1%”, reflecte-se nisto? É certo que a propaganda eleitoral americana, em particular a conservadora, é poderosa. Mas será ela a responsável pela traição e ludíbrio de muitos dos que dizem pertencer aos 99%, e que afinal, foram votar no candidato claramente pró-Wall Street?

Sabemos que o partido de Wall Street joga em dois tabuleiros, não somos ingénuos, mas era nítido que um dos candidatos – Mitt Romney - era claramente o candidato pró-Wall Street, um conservador super-rico, um accionista de muitas empresas, envolvido com o mercado financeiro. Pelos vistos, parece que entre os que dizem pertencer aos 99% há muitos que defendem, por equívoco ou convicção, os tubarões de Wall Street.

O Presidente dos EUA e também, é bom lembrá-lo, Prémio Nobel da Paz, é um homem poderoso, mas não tão poderoso assim. O seu poder acaba onde começa o poder de Wall Street, o poder dos Conservadores, que mantiveram a Câmara dos Representantes, o poder do Tea Party, o poder dos 1%... que não é só 1%.

O Presidente dos EUA, assim como os presidentes de todos os outros Estados, são cada vez menos poderosos. O poder está cada vez mais noutro lado, e não é no lado da democracia.

sábado, novembro 03, 2012

Golfinhos no Tejo

                                                                                                                                         © AMCD
Já sei, já sei, que me perdoem os que se sentem ludibriados: "ce ne sont pas les dauphins".

São representações de golfinhos, pois claro.

sexta-feira, novembro 02, 2012

O mercado e a Constituição

O mercado e o contrato funcionam exactamente ao contrário um do outro e, de facto são duas estruturas reciprocamente heterogéneas.”

Michel Foucault, Nascimento da Biopolítica, Edições 70, 2010, pág. 342



Sempre que vemos aflorar o desassossego dos neoliberais – esses que querem pôr as leis do mercado a reger as relações sociais - com a Constituição, vem-nos à memória as palavras supra-citadas de Foucault sobre o antagonismo entre o mercado e o contrato. O mercado sempre foi avesso ao contrato e ao plano, e vice-versa. O mercado, ou os mercados, são volúveis, instáveis. Uns dias animam-se para logo de seguida, desanimarem. As cotações bolsistas oscilam, ora subindo, ora descendo, conforme os dias e os ventos que sopram. Nos mercados o lucro é perseguido a curto prazo, pois a longo prazo, dizem, estaremos todos mortos. E na verdade, os que tanto perseguem o lucro querem-no o mais rapidamente possível, pois sabem que mais tarde poderão já cá não estar.

As sociedades são mais lentas na mudança, as instituições apresentam um elevado grau de inércia e as suas próprias regras contratuais ou tácitas, as suas constituições, a Constituição, as tradições, etc. são por sua vez avessas ao funcionamento do mercado auto-regulado (que é o mesmo que dizer desregulado, porque a coisa não se regula a si mesma e por si só, e parece que assim será até ao fim dos tempos, quer queiramos, quer não). Assim, esses que tudo querem ver regido pelas leis do mercado, têm pela frente a inércia das instituições – sejam elas as religiões com os seus feriados religiosos, seja a Constituição, sejam as famílias ou até uma instituição tão simples como a da siesta, aqui na próxima mas não próspera Andaluzia. A Igreja, por exemplo, parece ter só agora percebido que errou ao permitir inscrever na Lei secular a palavra “supressão” dos feriados. Suplica agora, arrependida, ao ver o erro que cometeu - e talvez tarde demais - para que se substitua a palavra “supressão” por “suspensão”. Mas, ainda assim, parece não ter percebido que para os mercados o ideal seria que não existissem quaisquer feriados, santos ou não, e que se suprimissem ainda os sábados e os domingos rituais, e as igrejas, e a Igreja. E podíamos ainda acrescentar a sinagoga e a mesquita e as religiões respectivas e outras, das mais antigas instituições do planeta. A fábrica, a máquina, o mercado, não se compadecem, por exemplo, com suspensões ou paragens, cinco vezes por dia, para que os trabalhadores islâmicos mais devotos possam sair temporariamente para orar a Alá.

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E isto tudo para dizer que a Constituição é uma espécie de contrato que põe em causa o livre funcionamento dos mercados, em rédea solta, como querem os teólogos do mercado.

quinta-feira, novembro 01, 2012

Outra vez o Bagão, (agora no programa do Mário Crespo)

Ontem, no programa “Jornal das 9” da SIC Notícias, Mário Crespo (nem sei como ainda tenho pachorra para o ver) recebeu Hélder Rosalino, Secretário de Estado da Administração Pública, e antes da intervenção do Secretário de Estado, lá decidiu introduzir uma peça antiga, de 2010, em que o então Ministro das Finanças e da Administração Pública, Bagão Félix, argumentava falaciosamente que cerca de 70% da população portuguesa estaria de alguma forma dependente, directa ou indirectamente, do Estado (!). A dita peça pode ser vista, ainda que cortada em partes essenciais, que alguém quis esconder, AQUI.

Onde está a falácia? Está no facto de Bagão ter omitido que, na verdade, também o Estado depende dos que para ele trabalham e não só. O Estado, por exemplo, depende tanto do polícia, do professor, do juiz, da enfermeira, do militar etc., como estes daquele. Estes homens e mulheres vendem o seu trabalho ao Estado, exactamente porque o Estado precisa deles e não necessariamente o contrário, como argumentava o “brilhante” Bagão. Aliás, até os pensionistas, noutros tempos, quando trabalhavam e descontavam, também o Estado precisava deles e é por isso que agora têm direito à justa pensão. Mais, alguns dos que realmente dependem, ainda que de forma indirecta, do Estado, como as crianças ou os estudantes, também desses um dia o Estado precisará, ora como contribuintes, ora como funcionários ora como futuros cidadãos.

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