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“Como cidadãos de uma sociedade livre, temos o dever de olhar o mundo criticamente.”
Toni Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2010, p. 219
Um pequeno livro. Um portento!
Obrigado Tony Judt.
Que descanse em paz.
«Começámos uma época de medo. A insegurança voltou a ser um ingrediente activo da política nas democracias ocidentais. Insegurança gerada pelo terrorismo, é claro; mas também, e mais insidiosamente, medo do ritmo incontrolável da mudança, medo de perder o emprego, medo de perder terreno para os outros numa redistribuição de recursos cada vez mais desigual, medo de perder o controlo das circunstâncias e rotinas da nossa vida diária. E talvez, sobretudo, medo de que talvez não sejamos só nós que já não conseguimos moldar as nossas vidas, mas que também que quem manda tenha perdido o controlo, para forças fora do seu alcance.»
Toni Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2010, p. 203
Ao ler este trecho do excelente texto de Tony Judt, escrito no ano da sua morte, lembrei-me das palavras de João Paulo II, no discurso inaugural do seu pontificado: “Não tenham medo!”. Actual, portanto. Se nos querem amedrontar, sejamos bravos e corajosos. Oponhamos a coragem ao medo. Agora, mais do que nunca.
Coragem contra a repressão. Coragem contra a opressão. Coragem contra a reacção, agora mais forte do que nunca. Coragem contra a supressão do debate democrático. Coragem contra esta política do medo. Coragem para questionar este caminho único que nos querem impor. Coragem para viver.
«A dinâmica inelutável da competição e integração económica global tornou-se a ilusão da nossa era. Como Margaret Thatcher uma vez explicou: Não Há Alternativa.» (p. 182).
«Mas tal como as instituições intermédias da sociedade – partidos políticos, sindicatos e leis – dificultavam os poderes de reis e tiranos, também o próprio Estado democrático pode agora ser a principal ‘instituição intermédia’: situada entre os cidadãos impotentes e inseguros e companhias ou agências internacionais insensíveis e inimputáveis. E o Estado – ou pelo menos o Estado democrático – conserva uma legitimidade única aos olhos dos seus cidadãos. Só ele responde perante estes, e estes perante ele.» (p. 184)
Toni Judt, Um Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos, Edições 70, 2010
Em democracia há sempre alternativa! E os governos têm duas: ou se colocam ao lado “dos cidadãos impotentes e inseguros” ou passam a servir as “companhias e agências internacionais insensíveis e inimputáveis”, ou por outras palavras, passam a servir os “mercados financeiros ” não democráticos. Se escolherem este segundo caminho, como parece que está a acontecer, então os cidadãos serão obrigados, mais tarde ou mais cedo, a encostar os governos à parede.
Um polícia persegue uma operária de uma fábrica de roupas que se manifestava com outras em Dhaka, no Bangladesh. Exigiam aumentos salariais.
Esta imagem, de 13 de Dezembro, é mais um sinal do início de uma nova Era. Uma Era em que os trabalhadores dos países em desenvolvimento se tornam reivindicativos e conscientes da exploração que lhes é movida pelas multinacionais e pelos capitalistas, ávidos de lucro.
É certo que o Estado e os seus governantes, corruptos e corrompidos, ao serviço dos interesses dos capitalistas e das multinacionais, pode enviar a polícia para bater nos trabalhadores, os mesmos trabalhadores que, com as suas contribuições e impostos, pagam o salário dos polícias. Mas, a pressão reivindicativa será imparável.
Quando essa pressão se tornar insuportável, para onde fugirá o capital então? Para África? Regressará ao Ocidente?
Onde irá procurar a mão-de-obra barata?
...não é tempo para nos alegrarmos, e muito menos para nos encavacarmos. E que me desculpe o Lopes das nomenklaturas.
É tempo de nos enobrecermos.
O Alegre que me perdoe, mas votarei no Dr. Fernando Nobre.
Ora aí está a resposta dos “mercados” aos cuidados dos políticos, que se esforçaram por chegar, contrariados, a um acordo para a viabilização do orçamento, (só para agradar aos “mercados”): os juros da dívida pública atingiram os 7%. Este facto demonstra que os “mercados” são, realmente, sensíveis (!) ao comportamento dos políticos…e continua a especulação, como se nada fosse.
A questão é que não se trata de “mercados”, mas de especulação financeira. São os especuladores senhores, são os especuladores…
No passado o financiamento da economia baseava-se na poupança. Diz a boa lei keynesiana que investimento é igual a poupança. Actualmente a economia financia-se junto dos mercados especulativos. Actualmente, o investimento é igual a endividamento e o endividamento é galopante. É a economia do crédito.
Por que não se retorna à economia da poupança? Por que razão os governos não desenvolvem medidas que fomentem a poupança em vez do crédito e do endividamento?
O Presidente Cavaco Silva já veio em defesa dos “mercados”: que não faz sentido agora atirar pedras aos “mercados”, diz ele. Mas o problema não está em questionar os “mercados”. O problema está naqueles que nos dirigem continuarem a tratar os “mercados” como se fossem deuses que é preciso aplacar, com sacrifícios cada vez maiores, quais molochs insaciáveis.
O noticiário das 20:00 da RTP 1 abriu hoje com “o nervosismo dos mercados”. Estão “nervosos”, dizem, e é suposto que nós devamos tremer. Malandros dos mercados! O ministro Teixeira dos Santos ouve os mercados atentamente, mais do que a nós. Somos por isso governados pelos mercados.
No passado, os bancos financiavam-se com base nas poupanças dos seus clientes. Hoje financiam-se nos mercados bolsistas, que são autênticos casinos. O Estado também se financia, por isso, nos mercados financeiros e deles está refém.
Como os governos não regularam os mercados quando deviam, agora são os governos que são regulados pelos mercados. Governam ao sabor dos instáveis “estados de alma” das praças financeiras.
Andamos à deriva, ao sabor, não do vento, mas dos humores dos mercados.
O Banco de Portugal, vem agora pedir-nos que poupemos. Daria vontade de rir, se o caso não fosse dramático. Quando o nosso rendimento disponível diminui acentuadamente devido às medidas do governo no âmbito do PEC III e quando grande parte da população está “com a corda na garganta” pede-se-lhe agora que poupe…Curiosamente, o Banco de Portugal não pede aos bancos que subam as taxas de juro das contas de poupança ou que baixem os spreads, para que dessa forma se incentive a poupança. O Banco de Portugal, não solicita ao governo para que aumente as taxas de juro dos certificados de aforro, ao contrário do que foi feito anteriormente. Não. O Banco de Portugal prefere antes fazer o mais fácil e o mais ridículo: “Portugueses, poupem que os tempos são difíceis!”
Acresce a tudo isto, a ideia do Banco de Portugal da criação de uma agência paralela e independente: mais uma instituição, mais uma despesa num tempo em que é preciso reduzir despesas, mais “jobs for the boys”, enfim…É coisa para gritar: “Tenham juízo, pá!”
No país com as maiores desigualdades sociais da União Europeia o governo “socialista” decide aumentar o IVA, um imposto indirecto e cego à condição socioeconómica de cada um: ricos e pobres pagarão exactamente o mesmo, independente da sua condição económica e social. Ora isto é uma grande injustiça e uma cobardia.
É uma injustiça porque cada um devia pagar imposto na mesma proporção da sua riqueza, ou seja os ricos deviam pagar mais e os pobres menos. É uma cobardia porque com tal medida os governantes não ousam enfrentar os poderosos e as elites. Além disso, esta medida política veda aos pobres o acesso a alguns bens de consumo mais comuns. Um euro na carteira de um rico tem um peso diferente de um euro na carteira de um pobre. Os nossos “socialistas” esqueceram-se deste facto.
Não aumentaram o IRC dos bancos para níveis iguais ao das demais empresas; não reorganizaram empresas públicas, como a CP, que tem um chefe para cada dezassete trabalhadores; não extinguiram institutos públicos cuja principal função é assegurar o sustento dos que lá foram instalados pelos seus influentes amigos, bem colocados na política ou nos quadros da administração pública. Nem ao menos aumentaram o IRS dos escalões mais elevados. Preferiram aumentar o IVA, mais uma vez.
É uma política cobarde porque sacrifica quem não tem poder reivindicativo: os reformados e os idosos, os desempregados, os beneficiários do rendimento social de inserção, as famílias numerosas, etc.
Realmente, é de dar os parabéns ao Partido “Socialista”, tão preocupado com o interesse nacional, como se o interesse nacional não fosse o interesse da maior parte dos portugueses.
Neste momento de aperto económico e financeiro o que esperam os nossos governantes para taxar os bancos a níveis percentuais iguais às demais empresas? Seria justo, não? Afinal os bancos, ao contrário das outras empresas, têm asseguradas múltiplas protecções contra a falência, a maior parte delas garantidas pelo próprio Estado com o dinheiro dos contribuintes. A necessidade de cumprimento rigoroso do défice e de obtenção de receitas, para além da redução da despesa, exige-o, mas os nossos governantes nem ousam tocar no assunto.
Será que o poder político está assim tão refém do poder económico e financeiro?
A esses, aos bancos, não atingem os “pacotes de austeridade”.
«Quando a competição substitui a solidariedade, as pessoas vêem-se abandonadas aos seus próprios recursos, dolorosamente escassos e manifestamente insuficientes. A deterioração e a decomposição dos laços colectivos convertem-nas, sem o seu consentimento, em indivíduos de jure, mas um destino opressivo e ingovernável conspira no sentido de lhes negar o ingresso na categoria de indivíduos de facto. Se nas condições de modernidade sólida, a desgraça mais temida era a impossibilidade para o indivíduo de se adequar à norma geral, hoje em dia, com o advento da modernidade líquida, o fantasma mais aterrador é o representado pelo medo de ficar para trás.»
Zygmunt Bauman (2006 [2005]), Confiança e Medo na Cidade, Relógio D’Água, pág. 17-18.
«Pode muito bem acontecer que alguém pense bem, mas não seja capaz de exprimir com correcção aquilo que pensa; mas isto de uma pessoa pôr por escrito as suas reflexões, quando não sabe dar-lhes ordem nem brilho, nem aliciar o leitor com um certo encanto, é de quem abusa desmedidamente do vagar que tem e das letras.»
Cícero, Tusculanas,
Citado por Maria Helena da Rocha Pereira, Estudos de História da Cultura Clássica, II Volume – Cultura Romana, 3ª Edição, Fundação Calouste Gulbenkian, 2002. Pág. 130.
Há grandeza no tormento de É desesperante ver uma criança desesperada porque o mundo ruiu à sua volta, ao contrário do desespero de uma criança que berra num centro comercial porque lhe negaram o sorvete que exigia.
Nos tempos que correm, os mortais ocidentais agarram-se a todo o tipo de bizarrias - consomem todo o tipo de estranhas e velhas novidades, qualquer coisa que lhes aplaque a inquietação que lhes vai na alma - e apenas porque a sua referência, Deus, morreu. Deambulam assim perdidos e procuram agarrar-se a tudo o que lhes pareça uma bóia de salvação, um rochedo seguro entre as águas revoltas de um rio. Mas afinal tais bóias, tais rochedos - cedo descobrem surpreendidos -, são apenas meras ilusões. E são arrastados pelas águas, desesperados e perdidos, olhando em volta à procura, enquanto se aproximam rapidamente do mar que os há-de engolir.
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«People readily swallow the untested claims of this, that, or the other. It's drowning all your old rationalism and scepticism, it's coming in like a sea; and the name of it is superstition." He stood up abruptly, his face heavy with a sort of frown, and went on talking almost as if he were alone. "It's the first effect of not believing in God that you lose your common sense, and can't see things as they are. Anything that anybody talks about, and says there's a good deal in it, extends itself indefinitely like a vista in a nightmare. And a dog is an omen and a cat is a mystery and a pig is a mascot and a beetle is a scarab, calling up all the menagerie of polytheism from Egypt and old India; Dog Anubis and great green-eyed Pasht and all the holy howling Bulls of Bashan; reeling back to the bestial gods of the beginning, escaping into elephants and snakes and crocodiles; and all because you are frightened of four words: `He was made Man.'"»
Chesterton (1926)
«- As pessoas engolem de boa vontade afirmações sem provas disto, daquilo ou de outra coisa qualquer. É como um mar que avança e submerge todo o nosso velho racionalismo e cepticismo, é aquilo a que se chama superstição. – Levantou-se bruscamente, mostrando uma espécie de preocupação na expressão carregada do rosto, e continuou a falar como se estivesse a sós consigo mesmo. – O primeiro efeito de não acreditarmos em Deus é perdermos o senso comum e deixarmos de ser capazes de ver as coisas tal como elas são. Qualquer coisa que qualquer pessoa diga, e declare coisa corrente, ganha uma extensão indefinida como um panorama de pesadelo. E um cão é um portento, e um gato é um mistério, e um porco é um talismã, e um escaravelho é um deus, e temos de novo todo o jardim zoológico do politeísmo do Egipto e da velha Índia; o cão Anúbis e a Leoa Pachet e os clamorosos Touros de Bashan; eis de regresso os deuses bestiais do início, que se confundem com elefantes e serpentes e crocodilos; e tudo isto, porque nos assustam as palavras que dizem: “Ele fez-se Homem”.»
Chesterton citado por Slavoj Zizek, Violência, Relógio D’Água, 2008, pág. 160.
“Aparentemente, ninguém se torna médico apenas pela leitura de compêndios de medicina.”
Aristóteles, Ética a Nicómaco, Quetzal Editores, 2004, pág. 253
“Os bons livros substituem as melhores das universidades.”
Emerson citado por Stefan Zweig, O Mundo de Ontem, Recordações de um Europeu, Assírio & Alvim, 2005, pág. 113.
Afinal, em que ficamos?
«If you want to understand opposition to climate action, follow the money. The economy as a whole wouldn’t be significantly hurt if we put a price on carbon, but certain industries — above all, the coal and oil industries — would. And those industries have mounted a huge disinformation campaign to protect their bottom lines.»
«Or look at the politicians who have been most vociferously opposed to climate action. Where do they get much of their campaign money? You already know the answer.»
Paul Krugman (2010), “Who Cooked the Planet?”, New York Times, 26 de Julho de 2010, pág. A 23
«Viver e deixar viver» era a célebre máxima vienense, uma máxima que ainda hoje me parece mais humana do que todos os imperativos categóricos, e que se impôs de forma irresistível no seio de todas as camadas sociais. Ricos e pobres, checos e alemães, judeus e cristãos viviam juntos em paz, apesar de alguns dichotes esporádicos, e os próprios movimentos políticos e sociais estavam desprovidos daquele terrível ódio que só penetrou na circulação sanguínea da época como sequela venenosa da Primeira Guerra Mundial.
Stefan Zweig, O Mundo de Ontem, Recordações de um Europeu, Assírio & Alvim, 2005, pág. 38.