quinta-feira, fevereiro 28, 2013

A barbárie


Um trabalhador imigrante acorda pela manhã, longe de imaginar que nesse dia será algemado pela polícia à traseira de uma carrinha e arrastado por quilómetros até desfalecer e morrer. Ninguém imagina sequer ao acordar, que irá morrer nesse dia. Muito menos assim.

Os "gastos" na Educação


Gráfico retirado daqui.

Basta ignorar os números relativos que nos querem impingir, como se retratassem verdades absolutas, e passar a atender aos absolutos, e a realidade torna-se mais clara. Os números relativos, (percentuais, por exemplo), utilizados para comparar diferentes realidades, se interpretados de uma certa forma, servem também para iludir e mistificar.

Já os números absolutos, se usados com o devido cuidado e rigor, podem servir também para comparar e para desmistificar um conjunto de mentiras que também nos querem impor.

E é muitas vezes assim com as estatísticas relativas à Educação. A utilização de valores absolutos faz sentido quando é de seres humanos e das suas necessidades que falamos. Afinal não são absolutas as necessidades básicas de um alemão e as de um português, só para dar um exemplo? Não tem o alemão boca, dois braços, duas pernas e uma cabeça, como nós? Não precisamos de nos alimentar, educar, trabalhar, habitar, e zelar pela nossa saúde, tal como ele?

Não faz assim mais sentido atender ao gasto absoluto por aluno, em vez de apresentar esse valor relativizado ao PIB ou à despesa pública, que diferem nos diversos países, enquanto as necessidades básicas dos cidadãos e dos alunos são absolutas e não relativas?

Pois bem, faz todo o sentido apresentar o "gasto" anual por aluno em valores absolutos. E, observando os números, lá está: gastamos muito menos por aluno do que os países mais desenvolvidos da Zona Euro (quase metade do que eles gastam!).

Já em termos relativos, de acordo com os gráficos, por cada 100 euros do PIB (por sinal reduzido), Portugal investe 4,9 em educação, enquanto na zona Euro, por cada 100 euros de PIB investe-se 6,2.

Em suma, com menos recursos, Portugal consegue melhores resultados na leitura, na matemática e nas ciências do que a média dos países da Zona Euro, atendendo ao Relatório Pisa.

E agora venham dizer-nos que precisamos de cortar (poupar dizem eles) na Educação porque nesse sector gastamos demais.

É por estas e por outras que esta gente tem de ser removida do Governo.

quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Ainda a resignação do Papa Bento XVI


Obviamente que lamentamos a sua partida nestas circunstâncias. E logo agora que começávamos a ouvi-lo com mais atenção. Até parece de propósito.

Logo agora que começávamos a concordar com as suas palavras e com a sua denúncia clara do "liberalismo radical" que toma conta do mundo e que está a lançar na pobreza multidões inteiras, polarizando as sociedades entre uma minoria de abastados e uma maioria de desprezados, empobrecidos e humilhados. Terão os seus conselheiros julgado que ensandecia ao ouvi-lo proferir tais palavras?

"É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus", disse Cristo uma vez. É claro que sabia do que falava!

Que o Papa que vem, também se oponha às modernices do capitalismo tardio, que tudo quer converter em mercadoria, até a própria Vida, para não falar dos simples prazeres da vida.

Que o que vem não seja um alinhado com os poderes e os poderosos deste mundo, nem com os consumidores-reis, mimados, infantilizados, individualistas, hedonistas, estupidificados pelo mais abjecto materialismo, iludidos pelo ópio publicitário invasor de toda a privacidade e colectividade.

Que seja mais forte do que este Papa mas tão jovem quanto este, porque este era jovem de espírito.

É preciso dizer NÃO a muito e a muitos. É preciso coragem, combatividade e antagonismo.

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Agora, e mudando de assunto, que interessa que o Papa Emérito deixe as suas vestes douradas e passe a envergar brancas, e que passe a calçar sapatos castanhos em vez de vermelhos, e que o seu anel de ouro seja destruído?

É ao anunciar estas ninharias que a Igreja se trai. Parece comprazer-se em alimentar o habitual circo para entreter as massas, ávidas de banalidades, santinhos e velas.

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Cristiano Ronaldo e Sérgio Ramos em corrida triunfal, após mais uma estocada no touro catalão.

Barcelona: 1  - Real Madrid: 3 (Taça do Rei)

Curiosas as expressões dos rostos.

Ao fundo, um adversário (Puyol) contempla a bola dentro da baliza, incrédulo, enquanto outro (Busquets) chega já tarde.

Já nada podem fazer. CR afasta-se rapidamente, eufórico, triunfante, terrível...

Um herói dos nossos tempos.

Um Aquiles dos relvados.

sábado, fevereiro 23, 2013

Poupanças!


Talvez tenha passado despercebida a mudança quase imperceptível e delicada no discurso, habitualmente cínico, do Ministro das Finanças: agora já não são cortes, são poupanças. As poupanças das finanças. As nossas gastanças.

Disse agora Gaspar que, face à inesperada derrapagem no PIB (mais uma), está considerar a aplicação de medidas para controlo da execução orçamental. Segundo o ministro “a composição destas medidas será uma combinação de poupanças em execução orçamental ao longo de 2013 com os efeitos das poupanças orçamentais estruturais e permanentes decorrentes do processo de reforma do Estado".

Pois está claro! Não são cortes, são poupanças! Mais de 800 milhões de poupanças! Poupanças que não seriam realizadas se estas derrapagens (outro eufemismo) não tivessem ocorrido. Benditas derrapagens que permitem tão gordas poupanças.

Venham mais derrapagens que queremos poupanças.

Grande Gaspar! Tanta competência até já aborrece.

P.S. – No Expresso de hoje, já se anuncia que a “Recessão engoliu o plano B de Vítor Gaspar”, na página 8 do primeiro caderno. Aguardam-nos mais poupanças, portanto.

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E será que Manuela Ferreira Leite já deu com a "espiral recessiva"? Mas o que é a “espiral recessiva”? E a Ongoing? O que é a Ongoing?

E a retoma? Para quanto a retoma? Não era em 2013?

quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Já não é o povo quem mais ordena, mas há ainda quem o cante.

Por vezes invade-nos uma sensação de déja vu. Parece que voltámos ao marcelismo, quando os estudantes se agitavam nas universidades e na rua se formavam pequenas manifestações espontâneas contra um regime que tendia para o autismo. Mais além cantava-se já o Grândola Vila Morena. Prelúdios de uma revolução. Vivia-se uma paz podre e o regime acabou por cair surpreendido (meses antes, consta, houvera um sinal - falso, sabemo-lo agora - de largo apoio popular). Mas os capitães de Abril tiveram de dar-lhe o último empurrão. E tudo se desfez em escombros. Sem este último abalo não teria havido revolução.

Mas é apenas uma sensação de déja vu. Hoje os tempos são outros e novos. O Governo tende para o autismo e a democracia dá sinais de enfraquecimento com o reforço do poder de elementos antidemocráticos no seu seio. O país perde soberania, o que significa que é o povo que perde soberania.

Por outras palavras, já não é o povo quem mais ordena. Mas há ainda quem o cante.

Quem mais ordena nos dias de hoje? O Governo? Merkel? Os mercados? O que escondem os mercados? Que rostos se escondem por detrás dos mercados? Que poderes e poderosos? Quem são os global players que determinaram o teu desemprego, ó Zé? Muito provavelmente os mesmos que vão determinar o meu.

E o que vamos fazer quanto a isso?

terça-feira, fevereiro 19, 2013

Yerevan e Ararat

Photograph: Maxim Shipenkov/EPA

domingo, fevereiro 17, 2013

Terá o Papa abandonado a cruz?

REUTERS/ANSA/ALESSANDRO DI MEO

Agora que a poeira assentou, a excepcional situação criada pela resignação do Papa levanta um conjunto de questões sensíveis, em particular, aos católicos. Logo após a resignação do Papa pelos motivos que se conhecem, ouviram-se vozes enaltecendo o acto, como sendo um feito corajoso e perfeitamente aceitável, dadas as circunstâncias pessoais (físicas) em que o Santo Padre se encontra. Poderíamos dizer contudo, que coragem seria o Papa ficar no seu lugar até à morte, não obstante o seu sofrimento. A verdade é que nunca, nos últimos 598 anos, um Papa abandonou a sua cruz. A verdade é que a Paixão de Cristo encerra a mensagem de que cada um tem a sua cruz para carregar, que o Salvador carregou a dele (nas palavras do filósofo Miguel de Unamuno, na sua obra Do Sentimento Trágico da Vida). Que viver também é sofrer*. Assim, esta abdicação não deixa de ser um sinal de grande fraqueza e crise no seio do catolicismo. Por isso se compreende a pressa dos sacerdotes em normalizarem uma situação irregular e que só enfraquece a Igreja.
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(*) Consta que, num suposto certame, Homero foi questionado relativamente à melhor coisa que poderia acontecer aos mortais, ao que o Poeta respondeu que “o melhor para os mortais que habitam sobre a terra é não nascer; mas tendo nascido, ultrapassar sem demora os portões do Hades.” (Já aqui fizemos referência a esta questão). O que queria dizer Homero com tão desgraçada resposta, que não o favoreceu no referido certame? Que viver implica sofrer e depois morrer, e que, quanto menor for a duração da vida, menor será o sofrimento. É um ponto de vista difícil de aceitar nos nossos hedónicos tempos, mas assim é. Viver implica carregar com essa cruz do sofrimento. Ora o Papa não morreu, mas alijou a sua carga ao descer da cruz. Porém, do ponto de vista de um católico, não se pode descer da cruz. Ou por outras palavras, não é lá muito católico descer da cruz.

Quanto à cruz da Igreja, outro a carregará, pois em breve teremos Papa, mas fica sempre a questão relativa ao exemplo do Papa que abandonou a cruz  antes do momento habitualmente determinado por Deus – o momento da morte. Terá o Papa contrariado os desígnios de Deus ao resignar por decisão pessoal e portanto, por decisão humana? Ter-se-á o Homem antecipado a Deus?

Consta que já relampejou na alta cúpula da basílica de São Pedro. Estará Deus zangado?

Entretanto na Síria



Entretanto na Síria, os morteiros continuam a semear a morte. Volvidos dois anos de revolução morreram cerca de 70 000 pessoas de ambos os lados, noticia a BBC. Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se o ditador tivesse resignado a tempo de evitar o recrudescimento do conflito? A violência contra os primeiros manifestantes fez as suas primeiras vítimas, e a partir daí cresceu como uma bola de neve. Eis a prova mil vezes repetida de que a violência gera violência. O ciclo só pode ser parado com a cedência de uma das partes ou a derrota militar de uma delas, o que não se adivinha para breve.

Curiosamente parecemos estar a assistir ao tipo de guerras quentes comuns no tempo da Guerra Fria, quando as superpotências se furtavam ao conflito directo entre si. O Bashar tem atrás de si o apoio da Rússia, da China, do Irão, etc. e os rebeldes, o apoio do Ocidente e da Turquia.

Quem sofre? O povo sírio.

sábado, fevereiro 16, 2013

Delichon urbicum


Este ano chegaram cedo. Ontem avistámos as primeiras andorinhas-dos-beirais do ano, vindas de África. Hoje vimo-las atarefadas em Cabanas de Tavira, na construção dos ninhos. 

Anunciam a aproximação da Primavera. Ficarão até ao fim do Verão.

sexta-feira, fevereiro 15, 2013

Talvez o maior saque da história, a seguir ao resgate de Atahualpa


David Landes na sua magnífica obra, A Riqueza e a Pobreza das Nações, narra o destino do Madre de Deus, um navio português do tempo em que a Ibéria era hiperpotência:


«Os Romanos tinham um aforismo, Pecunia non olet – “O dinheiro não cheira”. As pessoas podem não gostar do modo como ele é arranjado ou da pessoa que o conseguiu, mas gostam do dinheiro e irão aceitá-lo.
Num outro sentido, porém, o dinheiro cheira fortemente e o seu odor atrairá gente de toda a parte.

Em 1592, a Inglaterra estava em guerra contra a Espanha e Portugal, que, como já vimos, fora unido à coroa espanhola pelo jogo do casamento e da herança. Cerca de quatro anos antes, os Ingleses tinham repelido uma invasão espanhola e puseram a pique as embarcações inimigas (a pretensa Armada Invencível). Agora, uma esquadra inglesa estava a postos ao largo dos Açores para interceptar e capturar navios espanhóis provenientes do Novo Mundo, talvez carregados com tesouros do México e do Peru, quando lhe surgiu uma carraca portuguesa. Era a Madre de Deus, de regresso da Índia e que rumava para Lisboa.
Era maior do que qualquer navio em que os Ingleses já tivessem posto os olhos: 165 pés de comprimento, 57 pés de boca, 1600 toneladas, três vezes o tamanho da maior embarcação existente na Inglaterra; sete cobertas, 32 canhões e outras armas, superstrutura em talha dourada; e porões repletos de tesouros.
Ali estava a matéria-prima dos seus sonhos - arcas abarrotadas de jóias e pérolas, moedas de ouro e de prata, âmbar mais velho do que a Inglaterra, peças do mais fino tecido, tapetes dignos de um palácio, 425 toneladas de pimenta, 45 de cravo-da-índia, 35 de canela, 3 de macis, 3 de noz-moscada, 2,5 de benjoim (resina balsâmica, altamente aromática, usada como base para perfumes e preparados farmacêuticos), 25 de cochinilha (corante feito dos corpos secos das fêmeas de um insecto encontrado em climas semitropicais), 15 de ébano. Mesmo antes que o comandante da esquadra inglesa pudesse tomar a presa a seu cargo, a sua alvoroçada tripulação já tinha atulhado os bolsos com tudo o que era possível.
Quando o navio apresado entrou no porto de Dartmouth, destacou-se muito para além dos outros navios e dos telhados das pequenas casas ao longo do cais. Comerciantes, correctores, vigaristas, batedores de carteiras e ladrões surgiram de muitos quilómetros em redor, vindos até de Londres e de mais longe, atraídos como abelhas para o mel - para visitar o barco (os pescadores locais trafegaram incessantemente, e por alto preço, entre o barco e a margem) e procurar marinheiros bêbados nas tabernas e espeluncas, com a intenção de comprar, roubar, furtar e saquear a presa. Pela lei Inglesa, uma grande parcela dos bens apreendidos era devida à rainha e, quando Elizabeth soube o que estava a acontecer, mandou Sir Walter Raleigh até lá para resgatar o seu dinheiro e punir os saqueadores. «Tenciono deixá-los tão nus como estavam ao nascer», prometeu o valente Sir Walter, «pois Sua Majestade foi roubada e das mais raras e valiosas coisas».
Quando Sir Walter ficou senhor da situação, um carregamento avaliado em meio milhão de libras - quase metade de todo o dinheiro do erário - tinha sido reduzido a 140 000 libras. Mesmo assim, foram necessários dez cargueiros para transportar o tesouro, contornando a costa e subindo o Tamisa até Londres. Depois do resgate de Atahualpa, este foi talvez o maior saque da história. Esse naco de fortuna, essa prelibação das riquezas do Oriente, galvanizaram o interesse inglês por essas terras distantes e colocaram o país (e o mundo) num novo rumo.
Os Ingleses aprenderam outra lição com o Madre de Deus. Quando, alguns anos depois, um rico navio apresado foi conduzido ao Tamisa para ser descarregado, os homens que executaram a tarefa receberam como roupa de trabalho “gibões de tela sem bolsos”».

David Landes, A Riqueza e a Pobreza das Nações, Por que são algumas tão ricas e outras tão pobres, 6ª ed. Gradiva, 2002, pp. 165-167

***

Curiosamente o subtítulo da obra “Por que são algumas [nações] tão ricas e outras tão pobres” acaba por ser muito bem elucidado no trecho acima. Tudo se baseia na guerra, no comércio, no roubo, no furto e no saque. E assim se fez a glória dos impérios.

O saque prossegue entretanto, assumindo novas formas, mantendo porém a sua velha essência.

E assim se constroem as riquezas e as pobrezas do mundo.

Mas no que nos toca, tem a palavra Fernando Pessoa n’Os Colombos:

Os Colombos


Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.

Mas o que a eles não toca
É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.

Fernando Pessoa, Mensagem

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

É o Governo, estúpido!


Há quem se refira ao Estado quando se deveria referir ao Governo e vice-versa. Será que nos querem confundir ou estão confundidos? Isto chega a acontecer até com ex-governantes (refiro-me a F.J.Viegas, aqui), que apontam o dedo ao Estado, quando consideram absurdas certas medidas legislativas com origem no Governo.

Diabolizam assim o Estado quando deveria ser o Governo o visado. Parecem ignorar que existe uma diferença entre Estado e Governo.

Vem isto a propósito de uma medida legislativa, considerada absurda por muito boa gente, que obriga os consumidores à solicitação de factura no acto de qualquer compra, correndo o risco de serem multados se, no caso de interpelação por um "senhor da Autoridade Tributária e Aduaneira", os consumidores não fizerem prova do pedido da factura.

Parece que a polémica tem origem nas alterações ao Código de IVA decretadas pelo Governo no Decreto-Lei n.º 197/2012. Ora é um Decreto-Lei, e como tal, trata-se de um acto legislativo com força de lei, elaborado pelo Governo (quem tiver dúvidas consulte aqui o Priberam). Pelo Governo, entenderam bem?!

Portanto meus senhores (ex-governantes incluídos), se não vos agradam as medidas legislativas emanadas do Governo, não culpem o Estado por isso. Estão a falhar o alvo. Ou será que é de propósito?

Alguns liberais da nossa praça são tão lestos a atacar o Estado que até se esquecem, talvez convenientemente para eles,  que a responsabilidade é do Governo, no que se refere à idiotia das decisões tomadas.

Parece ser caso para dizer: é o Governo, estúpido!
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P.S. - Peço desculpa por utilizar tantas vezes e de forma redundante a palavra "Governo", mas talvez dessa forma a dúvida fique esclarecida de uma vez por todas.

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Estou a gostar de o ler...


E de o cruzar com este aqui:


Dois pequenos grandes livros que nos ajudam a compreender a crise da Europa dos nossos dias. Toni Judt escreveu em 1996. O ensaio de Ulrich Beck é mais actual (2012). Entre os dois livros existem áreas de intersecção que apontam no mesmo sentido: o domínio da Europa pela Alemanha.

E a Europa que se prepare:

"A Europa e a sua juventude estão unidas na raiva por causa de uma política que salva bancos com quantidades de dinheiro inimagináveis, mas desperdiça o futuro da geração jovem."

Ulrich Beck (2012), A Europa Alemã, Edições 70. pp. 20 

"A crise, diz Gramsci, é o momento em que a velha ordem mundial morre e em que é necessário lutar por um mundo novo, contra resistências e contradições."

Ulrich Beck (2012), A Europa Alemã, Edições 70. pp. 26

A leitura continua.

Os velhos partidos prosseguem alheios à mudança que se adivinha e ao meio em rápida mutação que os envolve. Ainda jogam no tabuleiro da velha ordem. Continuam a actuar como se a sociedade que os enquadra tivesse os mesmos problemas, interesses e contradições de há dois ou mais anos atrás. Talvez quando acordarem, seja tarde demais*. 

Os velhos partidos já não dão resposta às aspirações da juventude, vítima das políticas que a conduziram até aqui. E "aqui" é o desemprego. A democracia representativa carece de democracia, está ferida, e não se dá conta. Os partidos do "arco da desgovernação" estão a cavar a sua própria sepultura e a da democracia também.

Entretanto, os políticos governantes, tudo fazem para que se "regresse aos mercados", não querendo reparar que dessa forma prosseguem a mesma lógica que nos lançou na dependência dos especuladores. E cada vez que "vão ao mercado", asseguram aos jovens um futuro ainda mais sombrio, de austeridade e dependência, um futuro sem futuro, um futuro colonizado, porque serão eles os convocados a pagar a dívida e os juros contraídos pela actual geração governante.

É por isso que é cada vez mais "necessário lutar por um mundo novo, contra resistências e contradições".
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(*) Como encarar, por exemplo, o ensimesmamento do PS, os seus conflitozinhos internos, enquanto o país se afunda na crise? Parecem actuar com a inconsciência daqueles que discutem a cor do bote salva-vidas a lançar ao mar, enquanto o navio se vai afundando.

Mas alguém pode esperar alguma coisa desta gente? Afinal não estão eles também entre os que nos conduziram até aqui? A esperança, se é que ainda há esperança, reside noutro lado. Tem de residir noutro lado.

segunda-feira, fevereiro 11, 2013

Notícia do dia: Papa resigna.


Hoje fez-se história. Non habemus papam.

Um rombo na muralha do Império

Todos os impérios têm um fim. Por vezes tudo ocorre muito rapidamente e a agonia é breve. Outras vezes, começam por surgir sinais quase imperceptíveis de decadência. Rombos nas longínquas muralhas que não são reparados nem notados no coração do império. Mas para lá das muralhas, bárbaros atentos perscrutam  Procuram linhas de fraqueza e brechas. É então por aí que decidem invadir o território abandonado e descuidado pelos seus antigos ocupantes. Aí, no limiar do império, os bárbaros apercebem-se da fraqueza que invadiu o coração império. Apercebem-se que o tempo começou a correr a seu favor. Pressentem que mais tarde ou mais cedo atingirão as imediações da capital imperial onde irão erguer as suas tendas. E a partir daí darão a última estocada no touro moribundo.

Hoje, as muralhas que cingem os impérios já não são feitas de pedra. São feitas de presenças e projecções de forças - vasos de guerra, bases militares, territórios ocupados, etc. - nos lugares mais distantes do planeta. A retirada dessas forças é um sinal de fraqueza e decadência imperial.

domingo, fevereiro 10, 2013

Ainda no meio da ponte

Stiglitz vem lembrar-nos, na sua crónica do Expresso (9-02-2013), que os países da Zona Euro ainda não ultrapassaram o impasse em que estão metidos quanto à sobrevivência da moeda única a longo prazo. Que a “jogada de Draghi” foi isso mesmo, uma jogada, mas nada a isenta que seja um bluff. Pelo menos permitiu criar uma ilusão de segurança entre os investidores, suspensos que ficaram nas suas palavras, e entre os países intervencionados, cujos governantes já vislumbravam luzes ao fundo do túnel. Mas na actual conjuntura a confiança é coisa que não dura, principalmente quando a garantia são apenas palavras, mesmo sendo as de Draghi. É óbvio que, mais tarde ou mais cedo, Draghi e o BCE vão ser postos à prova. Os investidores, ou os mercados, vão querer saber até que ponto Draghi e o BCE vão efectivamente cobrir a parada.

Eis o excerto da crónica de Stiglitz (os realces são nossos):

«Mas a maior parte dos que estiveram em Davos puseram estes problemas de parte [os ganhos de produção industrial na China, devido à automatização de processos que destroem postos de trabalho e o desemprego jovem prolongado], para celebrar a sobrevivência do euro. A nota dominante foi de complacência — ou mesmo de otimismo. A “jogada de Draghi” — a noção de que o Banco Central Europeu, com a sua disponibilidade financeira, poderia fazer e faria o que fosse necessário para salvar o euro e cada um dos países em crise — parece ter funcionado, pelo menos por uns tempos. A calma temporária forneceu algum apoio aos que afirmavam que o que era necessário, acima de tudo, era uma restauração da confiança. A esperança era de que as promessas de Draghi fossem um modo sem custos de fornecer essa confiança, porque nunca teriam de ser cumpridas.

Os críticos salientaram repetidamente que as contradições fundamentais não tinham sido resolvidas, e que se era suposto que o euro sobrevivesse no longo prazo, deveria ser criada uma união fiscal e bancária, o que obrigaria a um nível de unificação política superior ao que a maioria dos europeus está disposta a aceitar.»

Joseph Stiglitz, “Pensamento não Convencional”, Expresso, 9 de Fevereiro de 2013

Em suma: continuamos a meio da ponte – à nossa frente está essa “unificação política” para a qual não queremos avançar; atrás de nós temos o regresso às moedas nacionais o que implicaria a desintegração do Euro, projecto que para já, não queremos abandonar.

Com mais confiança ou com menos confiança, permanecemos ainda no meio da ponte. Estacados, sem dar um passo, com medo do futuro e do passado, num presente precário e paralisado.

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Onde está a galinha?


Se neste guia procurar a galinha-sultana (Porphyrio porphyrio), desiluda-se. Aqui não a encontrará. 

Mas como é possível?! A emblemática ave do Parque Natural da Ria Formosa, ausente desta obra que diz ser o guia de campo mais completo das aves de Portugal e da Europa. Será que não consideraram o Reino dos Algarves? 

No melhor pano cai a nódoa.

Mas sempre pode ser vista e ouvida (ou "ouvista", nas palavras do ministro Relvas) neste excelente site, aqui.

A consciência da inconsciência

«A consciência da inconsciência da vida é o mais antigo imposto à inteligência.»

Fernando Pessoa

«Há quem viva sem dar por nada, há quem morra sem tal saber

José Afonso

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