Giovanni di Paolo, A Criação e a Expulsão do Paraíso (detalhe), c. 1445
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque
A queda do homem não apagou de uma penada todos os vestígios do Jardim do Éden. Os viajantes do século XVIII sucumbiram a uma espécie de ilusão
premeditada quando pensaram ter encontrado raças humanas inocentes no paraíso
dos Mares do Sul ou nas florestas do Novo Mundo. Mas as suas idealizações
tinham uma certa validade. Os homens primitivos, que existiam, por assim dizer,
fora da história, seguindo usos sociais e mentais dos primórdios e possuindo
uma certa intimidade com as plantas e os animais, encarnavam efectivamente uma condição mais natural. O seu divórcio
cultural com a natureza ocorrera evidentemente centenas, milhares de anos
atrás, mas fora menos drástico que o do homem branco: em termos mais precisos,
os seus usos culturais, os seus rituais, mitos, tabus, técnicas de recolha de
alimentos eram calculados para aplacar a natureza, para confortá-la, para viver
com ela, para tornar a divisão entre natureza e cultura em algo menos violento,
menos dominante.
Na segunda metade do século XX
foi criado um novo universo, um novo mundo que se amplia, para além do universo
exterior e do universo interior: o universo cibernético.
O Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy, é uma obra-prima do género western. E a tradução, de Paulo Faria, se
não enriquece a obra, está à altura dela. (*)
É longe, mas transportamo-la no coração. Quando a bomba caiu tudo caiu, mas as paredes dos
velhos edifícios construídos pelos nossos antepassados ficaram de pé ao
contrário das construções de madeira japonesas, que arderam facilmente. Consta
que num qualquer ano da Graça, lá para meados do século XVI, os mercadores e
padres portugueses desembarcaram nas praias do Japão e fundaram a cidade.
Levaram as armas de fogo, a Fé e a tempura, para além de tudo o resto que
levaram. Levaram Portugal.
Os crimes de guerra podem ser definidos como violações das convenções
de Genebra e de Haia relativamente às práticas proibidas em situação de guerra.
As referidas convenções cobrem um vasto leque de categorias, incluindo os maus
tratos infligidos a prisioneiros de guerra, refugiados e não combatentes, o uso da força excessiva e de armas proibidas
(tais como gás venenoso); a violação de hospitais e equipas médicas, a tomada
de reféns, o bombardeamento de alvos
civis; episódios recorrentes de saque, violação, espancamento e assassínio
praticados por militares indisciplinados.
Ele [o mundo disfuncional onde nos é dado viver] é caracterizado por um processo, iniciado
de modo mais sistemático no dealbar os anos de 1980, e que se traduz numa
enorme expansão do capital financeiro (suplantando em muito a produção de bens
e serviços da chamada «economia real»). Por outro lado, regista-se um enorme
aumento da concentração de riqueza, a nível global, facilitado pela quase
irresponsabilização da circulação de capitais, com a correspondente perda de peso da componente de rendimentos
do trabalho nas economias nacionais. A globalização permitiu a criação de
uma elite mundial, transnacional, capaz de influenciar ou mesmo determinar as
agendas políticas nacionais e internacionais.
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| Cormac McCarthy |
As leis da moral são uma invenção da humanidade para privar dos seus
direitos os mais poderosos em favor dos fracos. As leis da história subvertem as
leis da moral a cada passo. A validade de uma perspectiva moral nunca pode ser
confirmada ou infirmada por um qualquer exame definitivo.
Espera-se
da regulação que reduza o número e grandeza de incêndios florestais. E, no
entanto, ela pode, como já vimos, ter exactamente o efeito contrário. Acontece
assim porque o próprio processo político é, em si, também bastante complexo. As entidades reguladoras podem ficar reféns
daqueles que deveriam regular, não menos pela expectativa de empregos bem
pagos, no caso de o guarda-florestal decidir transformar-se num caçador
furtivo. Há outras formas de se tornarem reféns. Por exemplo, quando dependem das organizações que tutelam para obter os
próprios dados de que necessitam para o seu trabalho.
Recorrer à “linha da troika” para recapitalizar um banco é
recorrer ao dinheiro do Estado Português. Dinheiro que foi emprestado ao Estado
português e cujos juros têm de ser pagos pelo Estado português. Pelos
contribuintes. Na verdade, os contribuintes já estão a pagar pelos empréstimos
contraídos e que constituem um fundo para salvar bancos em aflição devido à
gestão danosa dos seus gestores, que, esses sim, quiseram dar passos maiores do
que as suas próprias pernas – por outras palavras, quiseram viver acima das
suas possibilidades.