Quatro anos a transformar direitos em mercadorias, em nome de uma doutrina política radical que conduz ao empobrecimento e à servidão a larga maioria da população. Foram quatro anos de uma certa revolução e os extremistas, os radicais, esses sim, estiveram no Governo.
Quatro anos de privatizações, de vendas ao desbarato das mais rentáveis empresas públicas, ou da sua parte rentável, em troca de uma receita qualquer, fugaz. Quatro anos de servilismo, de quem nos governou, perante o poder financeiro e estrangeiro, alemães e chineses.
Quatro anos a tratar-nos como se todos fossemos responsáveis pela gestão danosa de bancos privados. Como se todos fossemos responsáveis por igual, e em igual medida, pela situação a que isto chegou.
Quatro anos de buracos, para o contribuinte pagar e tapar. Buracos que não foram abertos por ele, o contribuinte. E ao fim de quatro anos, pasme-se, deixam-nos um buraco ainda maior, e uma dívida pública monumental para os nossos filhos pagarem. Foram quatro anos de cortes, e mais quatro anos de empobrecimento se avizinham. Não é preciso ser profeta para o adivinhar.
Quatro anos de vergastadas nos funcionários públicos, nos trabalhadores do sector privado, nos pensionistas, nos jovens, nos desempregados e nos pobres. Os jovens foram convidados a emigrar, na sexta nação mais velha do mundo. É obra!
Quatro anos de cortes salariais, de cortes nos feriados, nos dias de férias, nas prestações sociais, e em tudo, através de um IVA abusivo que atinge nalguns produtos necessários, quase um quarto do seu valor.
Quatro anos a furtar.
Quatro anos a pontapear a Constituição e a apoquentar o Tribunal Constitucional e os portugueses (bom, diga-se de passagem, e em abono da verdade, que neste ano da Graça o primeiro-ministro disse que nada iria fazer quanto a propostas de duvidosa constitucionalidade, como aquelas a que nos habituou em anos precedentes. É ano de eleições, não é verdade?)
Lançaram e aumentaram a dívida sobre gerações futuras, sobre os ainda não nascidos. E findos estes quatro anos, não há família que não tenha um desempregado ou um emigrado ou um vizinho nessas condições.
Nestes últimos quatro anos, gerações foram lançadas contra gerações, velhos contra novos, trabalhadores do sector privado contra trabalhadores do sector público, ricos contra pobres, e as desigualdades sociais não pararam de aumentar. Foi dividir para reinar, nestes quatro anos. Quatro anos a furtar.
Epílogo
Ouvi-os gritar na rua – gritos de descontentamento. Vi-os invadir as escadarias da Assembleia e arremessar paralelepípedos às barreiras policiais. Ouvi-os cantar o “Acordai!” frente ao Palácio de Belém e o “Grândola Vila Morena” no Parlamento e noutros lugares. Vi-os subir e descer largas avenidas e ruas estreitas em manifestação e também por lá caminhei e me manifestei. Vejo-os ainda, todos os dias, revoltados, manifestando-se frente a um banco assaltante – coisa que nunca vi na Grécia, nem com o Siryza, mesmo quando os bancos gregos estavam fechados.
Pois bem, é agora a hora! A hora de acordar. Porque se não for agora, nestas eleições… se voltarem a eleger os que lá estiveram, não me venham pedir outra vez para ir para a rua gritar ou cantar o “Acordai”. Não irei!
Farei como o Saramago. À primeira, retirar-me-ei para uma Lanzarote qualquer, para bem longe. Será o cada um por si e o salve-se quem puder. E, definitivamente, Portugal passará a ser um problema que terei comigo mesmo.