“A Serra do Cume e a Serra da Ribeirinha constituem os bordos actualmente visíveis da caldeira de colapso do Vulcão dos Cinco Picos, o mais antigo da ilha Terceira.
Daqui observa-se todo o interior da Caldeira dos Cinco Picos (a maior caldeira dos Açores com um diâmetro médio de 7 km), uma extensa caldeira dominada pelo verde das pastagens e o negro dos muros de pedra vulcânica, onde pontuam cerca de 15 cones de escórias de idade recente.” (Geoparque Açores)
Não o natal do pai natal capitalista, o natal da coca-cola, do consumo desenfreado, o natal americano, das melodias melosas e pegajosas. Natal com letra pequena.
Também não o natal da Igreja, bafienta e criminosa, corrupta e corrompida.
Sim, o Natal de Cristo, o condenado pela falível justiça do Homem, sempre longe da Justiça. Ele, que era mais do que um simples homem, não aprovaria, por certo, o que fizeram em seu nome, os que mataram em seu nome, os que puniram em seu nome, os que violaram em seu nome.
Feliz Natal, é o que desejamos a quem passar por aqui.
«Perante este cenário [de degradação dos ecossistemas terrestres motivada pela intervenção humana e pelos fenómenos climáticos extremos], a escolha que a Humanidade terá de fazer está entre continuar o crescimento desequilibrado dos últimos 50 anos, baseado em consumo e produção insustentáveis, ou transitar para uma vivência responsável com a Natureza com actividades, comportamentos e atitudes de solidariedade: antecipação e prevenção, a par duma eficaz e eficiente implementação de medidas e acções de regeneração e recuperação das áreas e ecossistemas degradados. O recente reconhecimento do direito humano a um ambiente limpo, saudável e sustentável, sendo relevante no contexto actual, coloca igualmente em evidência os direitos da Natureza.»
Maria José Roxo, Desertificação em Portugal, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2023, pág. 18-19 (realce nosso)
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Não tínhamos ainda ouvido falar dos direitos da Natureza. Ainda que o ser humano não se devesse excluir da Natureza, pois também ele é um animal (embora, no caso, se fale de uma segunda natureza), a ideia parece-nos espantosa. Afinal, se há uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, porque não uma Declaração Universal dos Direitos da Natureza, de forma a protegê-la das actividades humanas intrusivas e disruptivas dos ecossistemas? Há aqui um conceito que vale a pena explorar.
A voz do Homem é também a voz da Natureza, uma natureza falante e reflexiva. Uma Natureza que se questiona a si mesma, assim como a sua própria origem e existência. O Homem tem toda a legitimidade para criar essa Declaração Universal dos Direitos da Natureza. Aliás, tem esse dever.
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A Fundação Francisco Manuel dos Santos está de parabéns, pois dá-nos a conhecer os pensamentos dos melhores académicos portugueses de diferentes áreas, como é o caso da Professora Maria José Roxo relativamente à Geografia.
«A
memória do Holocausto torna mais pesada a mão dos ocupantes israelitas dos
territórios árabes: mantém-se viva a recordação da rentabilidade das
deportações de massa, as rusgas, a tomada de reféns e os campos de concentração.
À medida que a história avança, a injustiça tende a ver-se compensada por uma
outra injustiça acompanhada pela inversão dos papéis. Só os vencedores,
enquanto a sua vitória permanece incontestada, consideram (ou deformam) essa
compensação como triunfo da justiça. A
superioridade moral é vezes de mais a moral dos superiores.»
Zygmunt Bauman (1995)
Zygmunt Bauman, A
Vida Fragmentada, Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna, Relógio d’Água, 2007,
p.188.
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Não
se deve responder à barbárie com a barbárie. A lei de talião, no caso do
conflito israelo-palestiniano, não se deve aplicar, caso contrário também se tornará
bárbaro quem a aplica. O mais forte tem o dever moral de ponderar a resposta à
agressão, quando essa resposta implicar a perda de vidas humanas inocentes
(crianças, principalmente), ainda que tenha o direito de se defender contra a
agressão, e ainda o direito e o dever de tudo fazer para libertar os reféns,
com vida e saúde, se possível. Esta é a nossa posição, nesta fase do conflito
israelo-palestiniano, que não se iniciou no dia 7 de Outubro, ainda que nesse
dia os terroristas (sim, terroristas e não “combatentes”) tenham agredido
barbaramente os israelitas. Se um dos inimigos não parar a espiral de violência,
então a barbárie não terá fim.
O “Apocalipse” é um conceito religioso, uma profecia de São
João, um livro da Bíblia. Já a “extinção”, as cinco extinções que precederam a
actual, estão cientificamente comprovadas (ao contrário dos apocalipses, sempre
desmentidos, porque são baseados numa crença irracional). Infelizmente a
situação actual não é um desses apocalipses que poderão vir a ser desmentidos. Seria
bom se assim fosse. A situação actual exige planeamento, preparação e acção.
O camarada ali em cima, se pensa que os activistas agem com
base numa crença religiosa e obscura, engana-se redondamente. O mundo já se
encontra em colapso e ele ainda não reparou (sugiro-lhe a leitura do livro de Jared Diamond, Colapso, Gradiva, 2008).
É caso para dizer: “Fia-te na Virgem e não corras, pá!”
E não, o capitalismo não vai salvar-nos, como atestam, por
exemplo, as extensas áreas dedicadas à lucrativa cultura do abacate, altamente consumidora
de água, nos áridos concelhos do Algarve. Um dia destes, ainda
vamos ter de decidir se a escassa água disponível nas albufeiras e nos mantos
freáticos, vai para os campos de abacateiros e para os campos de golfe ou para
a população das aldeias e lugarejos que povoam a serra seca. Impunham-se outras
culturas, adaptadas à secura e poupadoras de água, mas a cobiça fala mais alto
(nem multas ou ordens do tribunal demovem estes "grandes" agricultores).
Quem luta com monstros deve velar
para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se olhares,
durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.
Nietzsche
Abismos diversos. Temos o abismo nuclear, o abismo climático, o abismo demográfico,
o abismo económico e financeiro (as crises geradoras de desemprego e miséria), o
abismo sanitário (virológico e bacteriológico, pandémico), o abismo político (a ascensão dos regimes autoritários) e mais algum abismo que nos escapa ou, pior, que desconhecemos, como o peru do Dia da Acção de Graças que nem suspeita o que lhe vai acontecer, tão bem tratadinho que é.
Caminhamos numa senda perigosa e estreita, rodeada de abismos.
Não sabemos como estaremos quando sairmos daqui, ou se iremos sequersair daqui.
E o que acontece quando nos pomos a mirar os abismos mais
profundos, ali, até onde a vista alcança e se perde no negrume? Ouvimos soar do fundo uma ameaça aterradora. Um rugido gutural, nunca ouvido. O fim.
O melhor é atalhar caminho e estugar o passo, sem olhar para trás.
Há momentos em que o Kitsch se pode tornar uma coisa nauseabunda e é difícil imaginar que a própria hierarquia da Igreja não reconheça e não se sinta incomodada por ela.
António Guerreiro
"Deus ex Media", Ipsilon, Público, 11 de Agosto de 2023
***
O que é a Igreja afinal, senão a primeira multinacional do mundo, com as suas sucursais implantadas desde cedo em todos os continentes, à excepção da Antárctida. Os seus serviços religiosos têm de ser promovidos de modo a serem empacotados e vendidos em todo o lado. Vive por isso bem com o kitsch.
Paulatinamente, e só dessa forma, a Igreja, com a sua inércia temporal, vai-se ajustando lentamente à rápida mudança social imposta pelas agendas progressistas. Também ela muda, sob pena de, se não o fizer, não conseguir vender os seus serviços, independentemente da vontade de Cristo (que expulsou os vendilhões, uma espécie de mercadores, do templo). Se a Igreja é a esposa de Cristo, então é uma esposa emancipada e empoderada que não precisa da anuência do marido para ir mais além. Nada que não soubéssemos há muito.
Ninguém pode regressar ao lugar onde já esteve. A cada microssegundo deixamos de ser quem éramos.
A cada microssegundo somos já outro e assim é com todos os lugares. Assim é com o Sol. Ninguém
volta ao que já deixou. Esta é a mensagem da cantiga do pastor.
Pastor
«Ai que ninguém volta
Ao que já deixou
Ninguém larga a grande roda
Ninguém sabe onde é que andou
Ai que ninguém lembra
Nem o que sonhou
Aquele menino canta
A cantiga do pastor»
De
facto, é impossível fugir ao kitsch,
procurando refúgio na religião, quando a própria religião é kitsch. A
«modernização» da Missa católica e do Livro de Oração anglicano foi, na verdade, um processo de kitschificação; e as intenções da arte litúrgica estão,
hoje em dia, contaminadas pela mesma efemeridade. As cerimónias litúrgicas
comuns das igrejas constituem um testemunho confrangedor de que a religião está
a perder a sua orientação puramente divina, e a converter-se ao mundo da
produção em massa.
Roger Scruton (1998)
A Cultura Moderna, Edições
70, 2021 pág. 125 (destaques nossos)
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Hoje
temos uma religião pop, missas pop, Papa pop, bispos pop,
cardeais pop, os portugueses, burgueses até ao tutano, tolentinos &
aguiares. A aparição do Papa, em qualquer lugar, é celebrada como uma
efemeridade, um grande evento de marketing religioso. Esta é a Era do
Mercado, que tomou conta de tudo.
A Inquisição oficializada principalmente a partir da Contra-Reforma
prolonga-se até ao século XIX em Portugal. O Pombalismo terá também essa faceta
inquisitorial bem patente na sua polícia específica, assim como as décadas de
vigilância fascista no século XX, ou, embora com aspectos bem distintos, o Estado
democrático exerce também o controlo quase absoluto da sociedade nos últimos 50
anos.
A Inquisição transformou-se num modelo mental e estruturou de
modo profundo o nosso plano de comportamentos, as dimensões morais e até
judiciais.
João Maurício Brás, O Atraso Português,
Guerra e Paz, pág. 140
Cumpre-se por obediência e medo, na maior parte das vezes
irracional, não por respeito ou por se considerar que seguir determinado
caminho é o mais correcto e eficaz. Mexericos e bisbilhotices, a má-língua no
trabalho e na vizinhança, a pequena calúnia, são vestígios de uma cultura de
resquícios inquisitoriais.
João Maurício Brás, O Atraso Português,
Guerra e Paz, pág. 129
Continuamos a construir
os nossos panópticos sociais sob a égide da governação do Partido Socialista.
Temos agora um Portal da Delação, digo, Portal da Denúncia (procedimento muito socialista e até nacional-socialista ou estalinista).
Maravilhoso mundo
novo. Aos poucos a liberdade e a privacidade vão perdendo território para o
controlo social. Que ideia maravilhosa essa a de os cidadãos controlarem os cidadãos.
Suspeito que
alguns de nós têm no seu DNA um gene mais desenvolvido: o gene inquisitorial.
Em Portugal a Santa Inquisição durou até ao século XIX. Um período tão
prolongado de controlo das ideias não poderia deixar de marcar a genética social e a de muitos portugueses.
Com o Portal da Denúncia, far-se-á da pequena calúnia grande. Como a imagem sugere, o pequeno caluniador tem agora um altifalante para se fazer ouvir. Para nosso bem e com cobertura governamental.
A soberba desta gente. Nem se dão conta. Na sua cabeça o
mundo pode perfeitamente ser dividido em dois, qual novo Tordesilhas. “O mundo
é suficientemente grande para os EUA e a China”. É traçar um meridiano para que
não se atropelem na sua hegemonia sobre os demais. Que grandes que eles são.
«Num artigo publicado em Fevereiro, investigadores chilenos mostram
que os seres humanos e os animais domésticos e pecuários superam em muito os animais
selvagens, que representam 6% da biomassa de mamíferos da Terra.»
Maria Amélia Martins-Loução,
“Investir no nosso planeta”, Público 21/04/2023, pág. 27
***
Tem-se investido no planeta, que
consideramos nosso, contudo nem o planeta é nosso (quem somos nós para
nos apropriarmos dele? E, no entanto, é isso que fazemos, vezes sem conta, sem
nos apercebermos que nós é que somos do planeta), nem se tem investido peloplaneta. Mas muito se investe no planeta: em ranchos e unidades industriais,
unidades agro-pecuárias, criação de cães e gatos, vacas e porcos, construção de
minas e unidades de extracção de combustíveis fósseis. Eucaliptais, palmeirais,
extensos campos de soja, modernas frotas de pesca. O planeta está cheio de
investidores, gestores, empreendedores, visionários do potencial ganho a retirar
do “capital natural” e ecossistémico, neoliberais e “homens do futuro”, para
parafrasear Sloterdijk, aqui.
As palavras “investir”, “gerir”
remetem para o léxico científico económico e empresarial. O “património
natural”, como bem diz a professora, é delapidado, porque os investidores acima
referidos não o veem como tal. Para eles, o “património natural” é “capital
natural”. Um filão a explorar.
Talvez precisemos de uma revolução
no pensamento: deixar de considerar nosso o planeta – a vida que nele habita,
entre a qual nos contamos, e a que estamos a destruir, pertence ao planeta. Talvez
não se trate de gerir o planeta, mas de zelar por ele, impor vastos
espaços onde os cobiçosos gestores não ponham a pata (perdoem-me a expressão
plebeia). Dirão que a determinação desses espaços, livres da acção e do olhar
cobiçoso do capitalista, também passa por uma gestão do espaço. Sim, mas talvez
seja necessário algo mais do que uma simples gestão.
Como uma vela que se acende num templo antigo, num ritual eternamente repetido, celebramos a memória da Liberdade. A Liberdade. Celebramos o dia em que a Liberdade saiu à rua.
Hoje discursam amigos e inimigos da Liberdade. Ouço-os na assembleia. A Liberdade e a Democracia assim o permitem.
Detalhe da capa do semanário Expresso, 14 de Abril de 2023
(excepto o balão amarelo e o rectângulo vermelho, que são destaques nossos )
***
E é escusado argumentar com esta
gente. Para eles o neoliberalismo é um credo, e, portanto, são surdos a
qualquer contra-argumento racional ou científico.
Como uma erva daninha, o credo
neoliberal defendido pelos lacaios das elites dominantes em jornais mui burgueses e liberais como o Expresso - burguesitos à espera das migalhas caídas da mesa
do patrão e de um afago na sua fiel e canina cabeça – teima em medrar, ainda
que denunciado vezes sem conta na sua injustiça.
Diga-se de passagem, que não são todos
os que lá escrevem, mas nós sabemos quem são esses “alegres papagaios” e eles também
sabem quem são. Os de servil escrita.
O Inverno retira-se uma vez mais,
até um dia deixar de regressar. Tanto aqui como nas estâncias alpinas e noutras
montanhas das latitudes médias, assistimos ao crepúsculo das estâncias invernais.
A paisagem sempre mudou inevitavelmente, e agora, aceleradamente. Os helvéticos já se
debatem com o retrocesso dos glaciares. Preciosos glaciares. Recursos
turísticos perdidos para todo o sempre. E nós, nesta serra, que não se alça
aos 2 000 metros de altitude, ansiamos pela neve, mas a neve já não vem.
Lá em cima, na serra, há um urso contemplativo e melancólico,
principalmente se for observado a partir de um certo ângulo. Mas atenção à
aproximação, não vá o animal espantar-se e sair por ali a correr espavorido,
acabando por rebolar pelas encostas.
Ferdinand Addis, Roma, História da Cidade Eterna, Crítica, 2022.
⭐⭐⭐⭐⭐
Eis-nos
lançados nas ruas de uma cidade antiga. Tão antiga que se diz eterna. Ali nos
cruzamos com personagens de todas as eras. Assistimos às assembleias entre a
plebe, frente ao templo de Júpiter, no topo do monte Capitolino. Vimos passar César
na sua biga triunfal e o escravo que, atrás dele, de vez em quando se lhe assoma ao ouvido para lhe murmurar que é apenas um homem, à passagem entre a multidão que o aclama como se fosse um deus.
Ali
nos cruzámos com Marco Aurélio, Séneca, Ovídio e Nero e muitos mais. Mas não
ficámos apenas naquele tempo romano. Acabamos por atravessar os tempos,
naquela cidade. Chegámos a combater entre os camaradas de Garibaldi. Também ali deparámos
com Mussolini, já no século XX, uma besta sexual com o QI de um sapo. Ele e a
sua última amante, executados e dependurados. E Fellini e a sua Dolce Vita.
A
história de Roma é também a história da civilização Ocidental. Está embrenhada
nela. Vindos da recém-descoberta América, os marinheiros de Colombo inauguram a
propagação da sífilis pela cidade das prostitutas. Isto para dizer que também
as longínquas descobertas ecoaram nas ruas e nas vidas dos cidadãos de Roma.
Muito
haveria para contar dos ilustres personagens que desfilaram na história da
cidade.
Ferdinand
Addis consegue colocar-nos lá, no espaço e no tempo. Viajamos por Roma desde a sua origem até ao século XX e com os romanos. Somos espectadores, somos participantes.
Um
livro excelente, repleto de acção e movimento, dinâmico, que se lê como um
romance.
*****
Uma
passagem:
«Enquanto
os godos recuavam, as balistas nas muralhas entraram em acção. Estas eram uma
espécie de bestas gigantescas: máquinas de arremesso de flechas com dois braços
equipados com molas de torsão, capazes de disparar virotes curtos e grossos a
distâncias além do que a vista alcançava. Estas máquinas aterrorizavam os godos.
Na Porta Salária, por onde a velha estrada do sal saía da cidade, um nobre godo
que se afastou demasiado das suas linhas foi atingido por um virote disparado
por uma equipa de balista com a pontaria afinada. O virote trespassou-lhe a
couraça e pregou-o a uma árvore, deixando-o a baloiçar-se e a contorcer-se,
enquanto os godos mais próximos, demasiado assustados para o ajudarem,
tropeçaram uns nos outros com a pressa de ficarem fora do alcance.»
Ferdinand Addis, Roma, História da
Cidade Eterna, Crítica, 2022, pp. 244-245
Um dos poemas para estes dias é a canção do
último pássaro. É difícil discernir o espírito do tempo em que vivemos quando
vivemos neste tempo. O que virá? O precipício sobre o mar rumorejante ou a luz
dos prados verdejantes? Já cantarão os últimos pássaros neste planeta fatigado, de
solo ressequido? Um último rouxinol canta antes da longa noite escura?
O que
virá?
O silêncio.
A Terra nem memória será.
Epílogo
Devastámos a Terra, conspurcámos o mar, poluímos o céu. Nem
as profundezas e os abismos escaparam ao fluxo e refluxo das nossas cloacas.
Nem as mais altas montanhas.
A Terra devastada. O mar conspurcado. O céu poluído. A vida à
beira da extinção.
Depois do canto do último pássaro, sabemos que advirá o
silêncio. Daremos entrada no reino sombrio das criaturas da noite, enquanto remanescerem
criaturas. Uma longa noite, repleta de horrores. Os últimos seres, almas,
espíritos e medos. Mutantes sem memória. E por fim, nem a memória restará.