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terça-feira, dezembro 31, 2019
terça-feira, dezembro 24, 2019
Capital excessivo
O homem moderno, extenuado pela enormidade dos seus meio técnicos, é empobrecido pelo próprio excesso das suas riquezas (…). Um capital excessivo e, portanto, inutilizável.
Paul Valéry
citado por Umberto Eco, A Vertigem das Listas, Difel, 2009, pág. 169
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Paul Valéry
domingo, novembro 17, 2019
segunda-feira, novembro 11, 2019
sábado, novembro 09, 2019
Quem quer tramar a ADSE?
No primeiro dia da semana que
agora acaba, Marques Mendes, na SIC, alertou para a má gestão da ADSE pelo
Governo. Mais, deu a entender que se trata de uma gestão danosa - estranhamente
danosa - quando se trata de um serviço que assegura os cuidados de saúde dos
funcionários públicos – os utentes – que para ele contribuem e também para os
outros, que não contribuindo por o seu rendimento ser inferior ao salário
mínimo nacional, a ele têm direito. No total, segundo referiu, trata-se de um
milhão e duzentos mil utentes. Acontece que os que não contribuem acabam por
ser suportados pelos que contribuem, não colocando o Estado um único cêntimo
para suportar esse encargo, quando é da sua responsabilidade fazê-lo. Segundo
Marques Mendes, o Estado deve milhões à ADSE, não compensa a ausência de
contribuições dos utentes isentos, e o Governo está a ignorar, há quatro anos,
um estudo do Tribunal de Contas que aponta caminhos de viabilidade para a ADSE.
Hoje, no final da semana, o economista Daniel Bessa, na sua coluna do Expresso, volta a chamar a atenção para a situação
insustentável da ADSE.
Ora parece que há algo de podre no reino da Dinamarca. É caso para perguntar: quem
quer tramar a ADSE? O que tem o Governo Socialista contra a ADSE? Por que razão
procede a uma gestão danosa?
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domingo, novembro 03, 2019
Livro lido: O Apelo da Tribo
Reapreciação: óóóó
(Já nos tínhamos referido a este livro, mas a leitura não estava concluída).
Leitura fluída e agradável. Boa tradução, se bem que o uso
de plebeísmos como “estrambótico” ou “endrominar”, na página 294, nos faça
torcer o nariz. Entre os liberais abordados, existem alguns conscientes da monstruosidade
que é o fundamentalismo de mercado e, pura e simplesmente, não vão por aí. É o
caso de Isaiah Berlin:
«Dito isto, temos de acrescentar
que, entre as várias correntes de pensamento que cabem dentro da aceção
«liberal», Isaiah Berlin não concordou totalmente com aqueles que, como
Friederich von Hayek ou Ludwig von Mises, veem no mercado livre a garantia do
progresso, não só do económico, mas também do político e cultural, o sistema
que pode harmonizar melhor a diversidade quase infinita de expetativas e
ambições humanas, dentro de uma ordem que salvaguarde a liberdade. Isaiah
Berlin albergou sempre dúvidas sociais-democratas sobre o laissez-faire e reiterou-as poucas semanas antes da sua morte, na
esplêndida entrevista – espécie de testamento – que concebeu a Steven Lukes,
repetindo que não conseguia defender sem alguma angústia a liberdade económica
ilimitada que “encheu de crianças as minas de carvão”». (pág. 264)
Até o liberalismo tem o seu
extremismo. E se Vargas Llosa alerta para as ideologias que fazem o apelo da
tribo em desfavor da liberdade do indivíduo, também é verdade que identifica
alguns pensadores que integram uma tribo ideológica à qual ele não se pode
furtar: a dos liberais. Dentro dessa tribo, há uma facção de fundamentalistas
de mercado que defendem a ideologia neoliberal com tal fanatismo que mais se
parecem com propaladores de uma nova fé.
Ora o neoliberalismo é o
liberalismo extremado e dos extremos nunca vem coisa boa. Levado ao extremo o
liberalismo devém num fundamentalismo de mercado, numa ideologia do egoísmo
sustentado na cobiça e na ganância. Ainda assim muitos liberais vêem no neoliberalismo uma coisa boa. É o caso de Mario Vargas Llosa.
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domingo, outubro 27, 2019
Uma paródia britânica: a crise das democracias
No Reino Unido verifica-se um estranho
caso de incompatibilidade entre duas formas de democracia: a directa e a
representativa. O que foi decidido em 2016 através da democracia directa, pelo
voto popular, está a ser contrariado, de alguma forma, desde
então, pela democracia representativa, que utiliza todo o tipo de expedientes e
pretextos para entravar o que foi decidido em referendo. Somos levados a crer
que a vontade do povo e a vontade dos seus representantes, que têm assento no Parlamento, não é
a mesma. Se assim é, parece que a solução lógica residiria na escolha de outros
representantes. Mas desde 2016 já muita água passou sob as pontes e por isso nada nos
garante agora que a vontade do povo seja a mesma. Daqui decorre que uma eleição
para o Parlamento Britânico pode não solucionar coisa nenhuma. A paródia
britânica prossegue.
quinta-feira, outubro 24, 2019
O apelo da tribo neoliberal
Mario Vargas Llosa, O Apelo da Tribo, Quetzal, 2019
Apreciação: óóóó
Mário Vargas Llosa não resistiu
ao apelo da tribo neoliberal, ou seja, ao apelo da tribo dos que idolatram
o mercado desregulado, o mais desregulado possível, embora diga defender o
mercado regulado. Se há algo de errado no liberalismo é esse fundamentalismo de
mercado que pretende alargar a lógica do seu funcionamento a todas as esferas
da vida e mercantilizar tudo, da saúde à educação, da segurança à
arte e quase tudo o resto. Para a tribo dos fundamentalistas do mercado, por
exemplo, um casamento não é um casamento, é um contrato; a educação de um filho,
não é simplesmente educação, é um investimento; o desemprego não é um
infortúnio, é uma oportunidade para se ser empreendedor, uma situação de
transição entre dois empregos, e assim sucessivamente. Se o mercado foi uma
descoberta associada ao desenvolvimento das trocas comerciais, a tentativa de
alargamento desse mecanismo a todas as esferas da vida é, no
mínimo, um erro.
Mário Vargas Llosa até reconhece o
“excessivo economicismo em que se confinou um certo liberalismo”(p. 65), mas depois
lamenta que Ortega y Gasset, que foi um liberal na cultura e na filosofia e “tão
curioso e aberto a todas as disciplinas” (p. 77) tenha sentido “uma desconfiança
parecida com o desdém” em relação ao “mercado livre” e à “liberdade económica”.
Chega por isso a acusar Ortega Y Gasset de ser um “liberal parcial” que padece
de uma “limitação geracional” (p.77). Mais adiante chega a criticar Ortega y
Gasset, considerando-o “um liberal limitado pelo seu desconhecimento da
economia”, facto que “o levou por vezes, quando propunha soluções para problemas
como o centralismo, o caciquismo ou a pobreza, a postular o intervencionismo
estatal e um dirigismo voluntarista” (p.87) e que “os erros de Ortega” eram os
erros de um “ingénuo” (p.91), pasme-se. Sente-se que Vargas Llosa queria que
Ortega y Gasset fosse da sua tribo, e seria, apenas com o problema de não ser um
neoliberal, ou seja, de não estender o seu liberalismo também à esfera
económica.
Ora Ortega y Gasset era um
filósofo que estava muito à frente do seu tempo, e que está ainda muito à frente
de Mário Vargas Llosa, não cometendo o mesmo erro que este comete ao abraçar o
desumano mecanismo de mercado, esse “frio” e “implacável” mercado que, nas próprias
palavras de Vargas Llosa, “premeia o êxito e castiga o fracasso de maneira
implacável” (p. 48), como se assim fosse ou fosse sempre assim – este é um mandamento
dos fundamentalistas do mercado – e como se Llosa não soubesse o que essa
palavra, “implacável”, esconde.
O livro está a ser, contudo,
muito interessante. A leitura prossegue a bom ritmo. Na tribo de Vargas Llosa,
cabem liberais respeitáveis e admiráveis, como Adam Smith, Ortega y Gasset
entre outros, mas lá está também Friedrich von Hayek, um bispo do
fundamentalismo de mercado (1).
(1) Segundo Llosa, “Hayek refere-se aos países subdesenvolvidos e diz que, felizmente para eles, os países ocidentais puderam prosperar e avançar graças ao seu sistema, de modo a terem agora um modelo a seguir e também poderem receber uma ajuda dos países do Primeiro Mundo na sua luta pelo progresso.” (pág.129) Ora, ou Hayek é ingénuo, ou isto é de um cinismo atroz.
(1) Segundo Llosa, “Hayek refere-se aos países subdesenvolvidos e diz que, felizmente para eles, os países ocidentais puderam prosperar e avançar graças ao seu sistema, de modo a terem agora um modelo a seguir e também poderem receber uma ajuda dos países do Primeiro Mundo na sua luta pelo progresso.” (pág.129) Ora, ou Hayek é ingénuo, ou isto é de um cinismo atroz.
Embora no livro não existam capítulos
biográficos de Margaret Tatcher, Ronald Reagan, Von Mises ou Milton Friedman,
estes cultores e defensores do neoliberalismo não deixam de ser alvo de
admiração e referência por Vargas Llosa que coloca todos no mesmo saco, homens de cultura
liberal e neoliberais económicos e políticos.
***
Uma nota final
Aqui prefere-se o liberal Keynes
ao neoliberal Hayek.
Aqui admiramos a cultura liberal
e os seus defensores, intelectuais como Jacques Barzum, Allan Bloom, Harold Bloom,
Ortega e Gasset, George Steiner, Roger Scruton, entre muitos outros intelectuais
que podem ser considerados da ala Direita.
Mas não deixamos de escutar os intelectuais da ala Esquerda, marxistas inclusive, como David Harvey, Immanuel
Wallerstein, Manuell Castels e outros, como Zygmunt Bauman ou Tony Judt, por
exemplo, já falecidos.
Como dizia
Ortega e Gasset “Ser de esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas
maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil; ambas, com efeito, são
formas de hemiplegia moral.”
Em todas as alas
há argumentos, vozes e pensamentos que devem ser ouvidos e pesados, ou seja,
dignos de consideração.
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domingo, outubro 20, 2019
Horror às máquinas (aspiradores matutinos de sábado)
Secadores e aspiradores,
Horrores!
Onde o silêncio repousa
também quero estar,
Mas longe, muito longe
dos cemitérios.
Talvez entre os sobreiros da manhã,
Onde a brisa não sopra ou sopra ligeira,
Afagando a ondulação das searas,
Ainda longe da ceifa e das vis ceifadeiras mecânicas.
Anseio por uma manhã sonhada
Longe de todas as máquinas.
Horrores!
Onde o silêncio repousa
também quero estar,
Mas longe, muito longe
dos cemitérios.
Talvez entre os sobreiros da manhã,
Onde a brisa não sopra ou sopra ligeira,
Afagando a ondulação das searas,
Ainda longe da ceifa e das vis ceifadeiras mecânicas.
Anseio por uma manhã sonhada
Longe de todas as máquinas.
terça-feira, outubro 15, 2019
Os outros cafres da Europa
Italianos recém-chegados aos EUA, Ellis Island, cerca de 1905
Fotografado por Lewis Hine, via Bettmann Archive/Getty Images
Fotografado por Lewis Hine, via Bettmann Archive/Getty Images
Parece que os italianos não foram sempre “brancos” nos EUA.
Excelente artigo no The New York Times sobre o racismo na América:
Brent Staples, “How Italians Became ‘White’”, The New York
Times, 2019
(https://www.nytimes.com/interactive/2019/10/12/opinion/columbus-day-italian-american-racism.html), consultado em 13/10/2019
segunda-feira, outubro 14, 2019
Livro lido: A Origem de (Quase) Tudo
Apreciação: ****
O Universo está cheio de mistérios para os quais a Ciência ainda não tem uma explicação satisfatória. Da matéria escura à energia escura, do aparecimento do Universo ao surgimento da Vida, da vinda do Homo sapiens às primeiras cidades, os mistérios e maravilhas aqui abordados são muitos.
Leitura fácil e aprazível. Divulgação científica da boa.
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domingo, outubro 13, 2019
Resultados eleitorais – uma nota
Fonte: MAI, 2019, consultado a 13/10/2019
Que alívio para a CDU. Já não precisa
de ser bengala do PS, agora que a Direita não espreita na esquina mais próxima. Livrou-se desse papel-empecilho,
dessa pedra no sapato que a impedia de caminhar livremente. Pode agora trilhar o
seu caminho e regressar ao seu estado natural de coligação crítica dos
disfuncionamentos da sociedade capitalista. Tal voz é necessária para que a
sociedade corrija ou esteja atenta a certos resultados que vai gerando, em
particular, quando se acentua o alargamento da desigualdade à sombra da
liberdade, sempre mais livre para uns do que para outros. Liberdade para
escolher, dizem os neoliberais, como se essa liberdade de escolha fosse igual
para todos e como se tal desigualdade fosse sempre justa. Não é.
domingo, outubro 06, 2019
Hoje vou votar
Nalgumas escolas públicas ainda
se ensina em contentores, em pré-fabricados, em espaços que mais parecem
estaleiros de obras paradas e em edifícios vetustos. As nossas crianças, os jovens,
os professores e todos os que lá trabalham e estudam, merecem uma escola melhor.
Nas Forças Armadas, o que Tancos
revelou, acima de tudo, foi o estado degradado em que se encontram as
infra-estruturas, os quartéis, as armas e as fardas, fruto de um desinvestimento
gritante, muito para além da incompetência de um ministro e das chefias
militares. Em Tancos até o reles ladrão reparou na ocasião. Acontece que, ao
contrário das outras ordens profissionais, os militares, por natureza da sua
profissão, não se podem manifestar politicamente. Até os camionistas têm mais
poder reivindicativo do que eles.
O desinvestimento é visível também
na degradação do edificado e das condições de trabalho, em tudo o que são
serviços públicos: dos hospitais aos tribunais, das esquadras aos quartéis de
bombeiros, dos serviços sociais às repartições e aos transportes, das lojas do
cidadão com as suas infindas filas e esperas desesperantes (e exasperantes) aos
lares de terceira idade.
Infelizmente a tónica
reivindicativa dos sindicatos tem residido quase exclusivamente nas questões
salariais e carreiras, descurando a urgente necessidade de melhoria das condições de trabalho e de
rejuvenescimento das classes profissionais. Hoje a degradação e o envelhecimento
estão à vista de todos.
Este estado de coisas acaba por favorecer
os que defendem a causa privada e um serviço público “tendencialmente
pago” (tendencialmente gratuito é tendencialmente pago, se atendermos à forma
com foi introduzido o termo “tendencialmente”) em detrimento da causa pública.
Nos últimos quatro anos, a dívida
pública continuou a aumentar em termos absolutos, sendo os futuros imperativos de pagamento e as possíveis imposições draconianas de credores uma espada de Dâmocles sobre as
gerações mais jovens. A dívida pública crescente é a porta aberta através da
qual a austeridade entrará. E como será quando chegar a recessão? Será que
os optimistas que nos governaram pensaram nisso?
Isto está mal. Hoje vou votar. É
o mínimo.
sábado, outubro 05, 2019
Freitas do Amaral (1941-2019)
Álvaro Cunhal, Freitas do Amaral, Mário Soares e Sá
Carneiro orientaram os portugueses nos primeiros tempos da democracia, após o 25 de Abril. Não nos
desonraram, antes pelo contrário. Não devem ser esquecidos.
Freitas
do Amaral, que agora parte, foi mais do que um político desses primeiros
tempos, foi um cidadão empenhado e um político activo, tendo até governado neste
século - foi ministro. Foi um amigo da cultura e do saber, um intelectual prolífico.
Pensou pela sua própria cabeça, não se acomodando a pensamentos de grupo rebanho. Um exemplo.
Que
descanse em paz.
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Partidas
quarta-feira, setembro 04, 2019
A Lua na Terra: exploração lunar em Bangalore
As crateras foram tapadas um dia depois. Envergonhar ainda resulta (isso se quem decide não for um sem-vergonha).
Daqui
terça-feira, setembro 03, 2019
Immanuel Wallerstein: “Há sempre alternativas políticas.”
Há tempos sublinhei estas palavras de Wallerstein num livro:
O capitalismo
é um sistema-mundo que existe há quinhentos anos e se baseia na primazia da
acumulação incessante do capital. (…)
Observa-se desde há quinze anos [desde o início dos anos 80] o ressurgimento de uma ideologia neoliberal
que pretende fazer crer às pessoas que é necessário ser-se competitivo porque o
mundo capitalista se tornou global. Como se se tratasse de um novo
constrangimento. Como é evidente, isto é completamente ridículo: sempre foi
necessário ser-se competitivo. Mas, quando se apresenta a mundialização como
uma ruptura, afirma-se também que não existe outra opção possível. No fundo,
trata-se de uma tese anti-política, que diz: «Nada mais podemos fazer senão
submetermo-nos.» Ora, se o sistema tem uma grande força, não é verdade que não
haja alternativas políticas. Há sempre alternativas
políticas. (…)
Immanuel Wallerstein (1998)
Immanuel Wallerstein in Gérard Vindt, 500 Anos de Capitalismo, A Mundialização de
Vasco da Gama a Bill Gates, Temas & Debates, 1999, p. 150.
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Partidas
Não há comunidades situadas (nem sitiadas)
Não há comunidades situadas, presas aos lugares; não existem fronteiras
para o pensamento e para a cultura; não existem condições culturais que
permitam a longa estabilidade temporal das permanências vernaculares. Como
dizia o poeta Luís de Camões,
Mudam-se os
tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser,
muda-se a confiança;
Todo o mundo é
composto por mudança,
Tomando sempre
novas qualidades.
Álvaro Rodrigues, Vida no Campo (2011), pág. 235
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domingo, setembro 01, 2019
A cultura do “foda-se”
Top de vendas de livros não ficção, segundo o Expresso, 31 de Agosto de 2019:
1º A Arte Subtil de Saber Dizer que
se Foda
2º Está tudo Fodido
(…)
(…)
E, atenção atenção, vem aí o Des Foda-se, Saia da sua Cabeça, Entre na sua Vida, promessa de
vendas e receitas chorudas, a caminho de um futuro top 10.
A compra por impulso vinga.
***
Primeiros versos da canção “Norman Fucking
Rockwell”, do
recém lançado álbum Norman Fucking Rockwell!! da seráfica melodramática Lana Del Rey:
Goddamn, man-child
You fucked me so good that I almost said, "I love you"
Profundo!
Até o amor
(o que é isso?) se rende ao fuck.
***
O escândalo
morreu (já ninguém se escandaliza) e no entanto o escândalo vende. As editoras
e os autores sabem-no.
Miguel
Esteves Cardoso (O Amor é Fodido, Como é Linda a Puta da Vida) sabia disso
muito bem; José Saramago (O Evangelho segundo Jesus Cristo) sabia disso muito
bem; Salman Rushdie (Versículos Satânicos)
sabia disso muito bem.
Escandalizaram muita gente, venderam muito por isso, mas não só por isso.
Escandalizaram muita gente, venderam muito por isso, mas não só por isso.
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segunda-feira, agosto 26, 2019
No princípio era o Pictograma
Os hieróglifos, em certas circunstâncias, valem mais do que as palavras. Fazem-se entender mesmo pelos analfabetos ou pelos estrangeiros, desconhecedores da língua. Contudo, fazer-se entender não significa, necessariamente, fazer-se obedecer. Em suma: há quem desobedeça à proibição.
Neste meio os cães e os gatos acabam por ter mais direitos do que os homens: são inocentes, não sabem ler nem escrever e nada entendem de hieróglifos.
No entanto, para que conste, não foram avistados quaisquer cães, gatos ou humanos em infracção.
O lugar é nas imediações do Pico Ruivo.
terça-feira, julho 16, 2019
quarta-feira, julho 10, 2019
Do livro negro do cristianismo
Quando os talibans eram os cristãos. O que o cristianismo militante
fez ao mundo clássico não tem perdão. Um excelente livro.
O atraso e a ignorância a que a escolástica e a dogmática
cristã sujeitaram o mundo não tem perdão. Outro excelente livro.
Como é que alguém que ama o mundo clássico e a Ciência pode continuar a
considerar-se cristão depois de tudo o que é narrado aqui?
A leitura continua.
domingo, julho 07, 2019
Para onde vai o dinheiro dos nossos impostos
A enorme dívida pública continua a subir em termos absolutos, tendo sido avolumada nos últimos anos, é preciso não esquecê-lo, pela integração da dívida de privados, bancos privados (BPN, BES, BANIF, etc.), “grandes demais para falirem”, que entretanto foram alvo de bailout, intervenção, nacionalização – chamem-lhe o que quiserem - pelo Estado.
Enquanto o dinheiro dos nossos impostos for principalmente destinado a pagar essa dívida, que não fomos nós que contraímos, da qual não somos nós, todos, responsáveis, o país não se desenvolverá.
Mais do que a Educação*, os Transportes, a Defesa, a Segurança e Ordem Pública… é a rubrica das Operações Relacionadas com a Dívida Pública que acolhe a maior proporção do dinheiro dos nossos impostos. Percebemos agora a degradação das escolas, dos transportes, das esquadras, das prisões, dos tribunais, e até dos hospitais, dos centros de saúde, das repartições públicas, dos quartéis, dos paióis, das universidades e das estradas? Percebemos agora por que razão muitos alunos aprendem em contentores, pré-fabricados improvisados, edifícios degradados e obras inacabadas cuja conclusão é eternamente adiada? Percebemos agora a degradação de tudo isso?
O que tem feito este governo para alterar esta situação? Pouco ou nada. A dívida pública continua a aumentar em termos absolutos. E se referem que diminui em relação ao PIB, é para criar uma ilusão, pois é o PIB que aumenta e não a dívida pública que diminui. Além disso, o PIB não aumentará para todo o sempre. E como será então, quando ele diminuir?
-----------------------------------------
(*) PS - O sector da Educação, claramente, estar a ser o sector sacrificado. Gasta-se mais com o serviço da dívida do que com Educação, atendendo ao destino do dinheiro dos nossos impostos. Apenas a Protecção Social e a Saúde recebem mais do que as Operações Relacionadas com a Dívida Pública.
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(*) PS - O sector da Educação, claramente, estar a ser o sector sacrificado. Gasta-se mais com o serviço da dívida do que com Educação, atendendo ao destino do dinheiro dos nossos impostos. Apenas a Protecção Social e a Saúde recebem mais do que as Operações Relacionadas com a Dívida Pública.
domingo, maio 26, 2019
Lei da vida
Desconfio sempre dos que dizem ter só certezas. Mais
facilmente deposito a minha confiança nos que duvidam. Dão melhores líderes.
sábado, maio 25, 2019
É preciso salvar a Terra! (Who really gives a fuck anyway?)
Andam para aí a dizer que é
preciso salvar a Terra. Insensatos! Não é a Terra que precisa ser salva, são
vocês seus idiotas! Não compreenderam? A Terra não precisa de vocês para nada,
vocês é que precisam dela. A Vida acaba sempre por encontrar o seu caminho,
connosco ou sem nós. Antes de o Homem ser Homem outros seres por cá respiravam e quando partir outros respirarão.
Precisamos salvar a Terra?! Pelo mote continuamos
a julgar-nos super-poderosos, dominadores, salvadores do mundo. Pois o mote está
errado. A Terra não precisa ser salva, precisa ser amada como uma mãe. Só
assim nos podemos salvar.
Nós e a nossa circunstância.
Nós e a nossa circunstância.
quinta-feira, abril 18, 2019
terça-feira, abril 16, 2019
Water, water everywhere!
© AMCD
No Gerês o rumor da água soa em todos os caminhos.
Velha aliada de carvalhos tranquilos.
Alegres os que caminham à sua sombra,
Alheios ao alvoroço do mundo.
O projecto europeu e a questão da imigração
A questão da imigração, sabemos hoje, está a ser altamente desestabilizadora nas sociedades ocidentais. O resultado do referendo do Brexit, a eleição de Trump e a ascensão de movimentos de extrema-direita e de demagogos populistas, por exemplo, resultaram da incapacidade das democracias actuais em lidarem com esta questão e com os imigrantes económicos (que muitos teimam em não distinguir dos refugiados, colocando todos no mesmo saco). Esta questão está a gerar incerteza, insegurança e dissensões no projecto europeu. Seria assim bom que os partidos que se apresentam agora às eleições para o Parlamento Europeu clarificassem muito bem a sua posição em relação à imigração. Qual das três posições cada um assume: porta aberta (entram todos), porta fechada (ninguém entra) ou uma imigração regulada? Cada uma destas posições tem as suas consequências para o projecto europeu e para a democracia. A continuar como estamos, não nos admiremos se o projecto europeu continuar a abrir brechas aqui e ali até naufragar.
Para que fique claro, sou a favor de uma imigração controlada, e de um apoio humanitário e de emergência aos que suplicam por refúgio enquanto a guerra e as perseguições políticas persistirem nos seus países de origem (“não se deve recusar água a ninguém”).
Não votarei em partidos que defendam uma política migratória de porta aberta. Não votarei em partidos que se manifestem por uma política migratória de porta fechada. Não votarei em partidos que não deixem bem claro qual é a sua posição nesta questão.
E não embarcarei na cantilena daqueles que querem fazer destas eleições europeias um voto de confiança ou de desconfiança em relação ao governo vigente. Essas eleições são lá mais para a frente.
Para que fique claro, sou a favor de uma imigração controlada, e de um apoio humanitário e de emergência aos que suplicam por refúgio enquanto a guerra e as perseguições políticas persistirem nos seus países de origem (“não se deve recusar água a ninguém”).
Não votarei em partidos que defendam uma política migratória de porta aberta. Não votarei em partidos que se manifestem por uma política migratória de porta fechada. Não votarei em partidos que não deixem bem claro qual é a sua posição nesta questão.
E não embarcarei na cantilena daqueles que querem fazer destas eleições europeias um voto de confiança ou de desconfiança em relação ao governo vigente. Essas eleições são lá mais para a frente.
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sábado, março 23, 2019
A poesia visita as mentes com o fulgor de um raio
Heinrich Heine e a Musa da Poesia, 1894–1894
Georges Moreau de Tours
O poeta (como o homem
moral na sua acção, que nunca é isenta de alguma impureza) sofre com as manchas
que percebe na sua obra e gostaria de as remover a todas, até ao mais ínfimo
vestígio […] Mas a poesia visita as mentes com o fulgor de um raio e o trabalho
humano tenta segui-la, atraído, fascinado por ela e dela colhe o que pode e, em
vão, pede que fique e se deixe remirar em todos os traços do rosto, mas ela já
vai longe.
Croce, A Poesia (1936), citado por Umberto Eco, Aos Ombros de Gigantes, Gradiva, 2018,
p. 298.
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terça-feira, março 19, 2019
O “fascismo nunca mais”
Tivesse Madeleine
Albright escrito o seu livro um pouco mais tarde e haveria outro fascista a acrescentar
ao rol*. Por certo um capítulo sobre aquele que preside ao país com maior número de
falantes de língua portuguesa (cerca de 209 milhões de pessoas): Jair
Bolsonaro. Sucede que escreveu Fascismo:
Um Alerta, antes da eleição de Bolsonaro.
Paradoxalmente as democracias
continuam a eleger fascistas.
O “fascismo nunca mais” era um
sonho de Abril.
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domingo, fevereiro 17, 2019
A essência da Escola
A escola foi inventada no tempo dos antigos Gregos como uma relação
entre mestre e discípulos, tendo como horizonte o conhecimento, e, apesar de
essa relação ter sofrido muitas mudanças, a escola continua a ser na sua
essência, essa relação.
Carlos Fiolhais, David
Marçal, A Ciência e os Seus Inimigos,
Gradiva, 2017, pág. 225.
***
É isto a Escola. O resto é
política, ideologia e “Ciência” da Educação. Sempre houve muita gente a querer
meter o bedelho na Educação por motivos ideológicos e políticos, em particular
a gente dos partidos políticos. Querem pôr a mão no futuro, para tentar
moldá-lo a seu contento. Querem, de forma sub-reptícia, colocar a juventude nos
seus próprios carris ideológicos. E a verdade é que a ideologia tem conseguido
imiscuir-se nos programas escolares. Os professores, por sua vez, vão
paulatinamente sendo convertidos em meros aplicadores de “conteúdos”, que se
querem bem controladinhos, muito bem controladinhos… Hoje é a essência da
escola que está a ser posta em causa.
A escola é demasiado importante para ser deixada a
outros que não os professores.
Infelizmente os professores têm ido na cantiga daqueles que
dizem que a escola é demasiado importante para ser deixada apenas aos
professores.
sábado, janeiro 12, 2019
O novo mantra político do ano
O novo mantra político do ano – vamos
ouvi-lo muitas vezes, porque é preciso repeti-lo até à exaustão para que se
inculque no comum dos mortais a necessidade de privatizar tudo: “O Estado
falhou”.
Os privados nunca falham.
Onde estão aqueles que determinaram a privatização dos CTT, em 2014? O que terão agora a dizer às populações que
residem em concelhos onde se anuncia o encerramento do único balcão de
correios, passando para as juntas de freguesia – para o Estado, portanto – os
serviços e funções que são atributo das estações de correio?
Uns amigalhaços!
A lógica do lucro assim o
determina, não é verdade?
Fantástico Mike!
Foto: daqui.
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